quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Aos meus Caros e Bons Amigos

Estive ontem com o médico para inspecção da visão, que era suposto ter melhorado.

Não vos dar pormenores, mas fartei-me de levar na cabeça e a confirmação de que o meu olho direito, tem mesmo de descansar, pelo menos até testes mais apurados a efectuar no Hospital da Cruz Vermelha.

Assim, meus Caros e Bons Amigos vou estar uns tempos menos assíduo nos vossos espaços, mais restringido, para bem dos olhitos, sobretudo o direito.

Como alguém disse, eu repito:

I shall be back!

Beijos e abraços,

José

domingo, 24 de janeiro de 2010

Coincidências fadistas, fado da vida



A vida é assim, como o fado.

Incondicional amante de toda a música, salvo a sacra e de câmara (nem toda) não posso deixar de admitir ter um carinho muito particular pelo fado.

Primeiro, por ser alfacinha de gema, tendo-o vivido bem de perto, depois porque através dele, grandes poetas têm sido cantados, tornando-os, assim, mais conhecidos.

Para evitar provocar susceptibilidades nortenhas, devo confessar que também no Porto se canta excelente fado, embora aí, a minha experiência, tivesse sido bastante fugaz.

Tive, em parte da minha juventude, o privilégio de viver a noite deambulando pelas catedrais do fado vadio, que se cantava sobretudo no Bairro Alto, Alfama e Mouraria.

Foi todavia no Bairro Alto que mais poisei, sempre com a trupe da Avenida de Roma, arrancando de forma variável e aleatória, dos cafés VáVá, Luanda (por onde poisava entre outros o Paulo de Carvalho) do Londres ou da Mexicana.

Dependendo da disposição e disponibilidades financeiras - sempre escassas - iniciávamos, invariavelmente, a ronda na Praça da Alegria, (Márcia Condessa/Hot Club) subindo por ali acima até ao Bairro Alto.

Ali, ao abrigo de salutar convivência e calor Humano, lá íamos poisando nas diversas tascas, onde, além de se petiscar por módicos preços, se podia ouvir fado até às tantas da noite. Quer os músicos, quer os fadistas eram amadores, sucedendo, na maioria dos casos, serem complementados, por clientes que jeito para a arte possuíam e a executavam, quer a solo quer em acesas e etilizadas desgarradas.

Por vezes lá apareciam, sedentos das mesmas partilhas, a da noite e a do fado, figuras conhecidas de outras áreas,como, por exemplo, o Mário Zambujal e o José Cardoso Pires, entre outros, alguns até fadistas consagrados, nos seus dias de folga.

Não terei certamente memória para mencionar todos os fadistas que naquela época cantavam e que faziam as delícias de quem do fado gostava, mas não posso deixar de mencionar alguns dos que mais apreciei, a começar pelo Alfredo Marceneiro, o Carlos Ramos, a Lucília do Carmo, (mais tarde e presentemente o filho, o Carlos) o Fernando Farinha, a Teresa Tarouca, o Manuel de Almeida, sem, claro, esquecer a Rainha Amália.

Que me perdoem os inúmeros outros que não menciono

Vem isto a propósito, devido a uma coincidência sucedida esta semana.

Não obstante não ter deixado de gostar de fado, constato que me desactualizei bastante, não tendo acompanhado a evolução, a transformação que se foi introduzindo no fado, sobretudo a nível de reposição de valores.

Não a considerando uma fadista de gema, confesso que da nova recente geração de fadistas só me recordo da Marisa e do Camané, por serem os mais badalados em termos de media.

Voltando à coincidência.

Esta semana recebi de um amigo um pps, via email, com o fado “Buzios” da Ana Moura.
Ontem, Sábado, esteve circunstancialmente, cá em casa, a Joana Amendoeira.

Sinceramente confesso que não conhecia nem uma, nem outra.


Depois de ouvir vários fados de ambas, confesso-me totalmente rendido e feliz por esta coincidência, pois sem dúvida que considero, para mim, que descobri duas interpretes de grande qualidade.

Para quem não conhece e, como eu, goste de fado, recomendo veementemente uma incursão pelo YouTube, onde facilmente encontrarão profusa matéria audío-visual, sobre elas.

Para já limitar-me-ei a incluir, para partilha, um vídeo clip de cada uma delas.

Apreciem





terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Parabéns Meryl Streep



Não é sem talento que se chega ao sétimo Golden Globe!


Ela mereceu-os, sem dúvida!


Por isso e por ser um seu incondicional admirador, aqui, modestamente, a homenageio também.






Imagem de Le Figaro. 
Meryl Streep et son 7e Golden Globe. Là, c’est celui de la Meilleure Actrice dans une comédie en french gastronome dans Julie & Julia, de Nora Ephron.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O poder do terror


Porque não fiz o que muitos colegas meus fizeram, com a minha idade - fugir para fora do país - acabei por estar presente, como muitos outros milhares de jovens portugueses, numa das frentes de guerra que o Estado Colonial, mantinha em três países africanos. (designados,  na altura, como províncias ultramarinas) .

Recordo-me, que, em Angola, onde estive em serviço, 27 meses o maior medo que se nos deparava, era invariavelmente ter de fazer trajectos rodoviários, quer em colunas militares puras, quer em protecção a colunas de reabastecimento civil, sempre em pisos de terra batida, designadas por “picadas”.

Isto por duas simples razões. 

A primeira ser potencialmente vítima da explosão de uma mina anti-carro, a segunda, ser simultaneamente sujeito a uma emboscada. 

A segunda poderia suceder sem a ocorrência da primeira, sendo todavia, ambas igualmente letais.

Tratava-se, evidentemente, de uma guerra em que os diferentes povos autóctones locais (de norte a sul, de formas diferentes, diga-se) defendiam a independência do seu território, colonizado durante séculos, condição que viria a ser reconhecida, quando nós, aqui, obtivemos a democracia.

Apelida-los, como o regime político dessa época utilizou, politicamente, designando-os de “terroristas” foi termo com que nunca concordei.

Isto porque, a utilização de  minas anti-carro ou anti-pessoais, neste caso, têm de ser consideradas militarmente como normais, num teatro de guerra aberta, não utilizadas  para atacar populações civis, mas sim as tropas  inimigas.


Após este prólogo, julgo poder expressar o meu mais veemente repúdio pelas técnicas “terroristas” essas sim, “terroristas” utilizadas por diversos movimentos ou facções, alegadamente políticos, religiosos ou o que sejam, utilizando o terror, no uso indiscriminado de bombas em espaços repletos de  civis, como meio para atingirem os seus propósitos.

Deverão neste âmbito ser incluídas as acções recorrentes de movimentos como os dos talibãs, no Afeganistão, da ETA  no País Basco, (e não só) do agora mais sossegado, IRA  na Irlanda, isto claro, sem esquecer a influência,  mortífera e nefasta acção - directa ou indirecta - nos diferentes cenários internacionais da Al-Qaeda, não esquecendo outros como as FARC na Colômbia, senhores da guerra e droga espalhados um pouco por todo o Planeta.

Chamem-lhes o que quiserem, mas actos destes, não passam de atentados cobardemente  perpetrados, a coberto de alegadas ideologias, politicas ou religiosas, assassinando populações indefesas, humanos, crianças, mulheres e homens.



Assim, claramente, o que repudio frontalmente, e considero que tem de ser duramente combatido é o facto de que esses grupos ainda não se tenham apercebido  que continuam a actuar, impunemente,  com uma completa ausência de princípios Humanistas, injectando, psicologicamente ideais fundamentalistas, corrosivos, desprovidos de qualquer Essência Civilizacional Fundamental, induzindo e mentalizando jovens a auto-liquidarem-se, assassinando, por arrasto, outros ou a liquidarem directamente milhares de inocentes, que nada têm a ver com os princípios e os valores que alegadamente dizem defender.


Julgo que nenhuma religião, credo religioso ou político, pode impunemente, justificar continuar a matar, estropiar e destruir só simplesmente por seguirem as suas  enviesadas leis  e credos, considerando que estas, são de per si, justificação  para tais actos.



Será que no século XXI, conseguiremos deixar que o terror continue a  imperar, deste modo?

 Não, certamente que não, mas...


...há que mudar este estado de coisas. 

Como?

Não sei, exactamente, mas ...


...suponho, sem grande margem de erro, que terá de ser com duro sacrifício, sobretudo para os que o mal propagam, aos que nada de mal fizeram.



Bolas!

Ou será que, mesmo de bengala, terei de ir à guerra de novo?

domingo, 17 de janeiro de 2010

Disfarçar a emoção, ou não, eis a questão




Hoje de tarde assisti a uma reportagem da CNN, das muitas que esta estação tem efectuado sobre o Haiti, com um batalhão imenso de repórteres, destacados para o teatro de operações.

Consegui apanhar o nome do repórter Ivan Watson que em directo para os estúdios, com ar consternado, narrava a sua experiência vivida ontem, de uma vítima, entalada entre os escombros, conseguira ainda viva, enviar a um dos seus familiares, que de acordo com esse familiar, dizia:

"Please do your best, do not let me die!"

O repórter, continuou, dizendo que aquela vítima, por impossibilidade atempada de auxilio, havia perecido e sido enterrada hoje, após resgate, passando a emissão para os estúdios, para a colega (da qual não consegui apanhar o nome)

Até aqui, para mim foi mais uma reportagem de um repórter no terreno, empenhado em narrar mais um dos inúmeros casos que ocorreram e continuam, infelizmente a ocorrer naquele flagelado país.

O que sinceramente me emocionou, foi a impossibilidade da pivot, no estúdio, ser incapaz de dizer mais do que:

hã, ok Ivan...

...em voz completamente embargada pela emoção, em frente da câmara, no estúdio, sendo perfeitamente visível as lágrimas que à face lhe afloraram, emissão que rapidamente foi desviada para outro plano, evitando, obviamente, o prolongar de uma situação pungente, inultrapassável, para a pivot.

Provavelmente este episódio, demonstrando forte emoção, chorando em frente da câmara, em termos de jornalismo poderá não ser o mais profissionalmente correcto.


Para mim se-lo-á certamente, mesmo que os manuais digam o contrário

Foto do New York Times

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Afinal sempre evoluimos, mas pouco

O que aqui hoje me traz é a evidente constatação de que a experiência, a vivência, ao longo dos anos, em contraposição a princípios Humanistas, nos trazem analogias factuais, que mesmo dolorosas, nos confortam e premeiam, pelo menos a nível intelectual.

Vem este intróito a propósito do que o recente terramoto no Haiti provocou e está a provocar, não tanto em termos materiais, mas muito mais em termos Humanos, quer pela perda de vidas, quer por aquilo que ainda se virá a contabilizar em feridos, eventuais futuros inválidos, por um lado, e, por outro, a enorme onda de solidariedade que se propagou, por todo o lado um pouco, felizmente.

Teria eu aproximadamente 20 anos, em 1964 portanto, quando conheci, por motivos profissionais o Gunter, homem já maduro, um inquestionável técnico de radar, ao serviço de um fabricante norte-americano, representado pela empresa onde eu, naquela altura, trabalhava.

Ele veio a Portugal para ministrar um curso de radar de tempo, implantado no nariz dos aviões (também conhecido por Doppler, por ser baseado no principio descoberto pelo austríaco com o mesmo nome) à equipa de formação da TAP.

O Gunter era alemão e estava sediado nos escritórios da filial da empresa norte-americana para que trabalhava em Frankfurt, assegurando, para toda a Europa, treino e assistência técnica aquele tipo de equipamento.

Após dois dias, de forma espontânea, e com alguns alguns whiskies aconchegados depois do jantar, dissertou sobre a sua experiência como piloto da Deutsche Luftwaffe, (força aérea alemã) durante a segunda guerra mundial, ao serviço da qual, por ter sido atingido por um avião inimigo e uma aterragem forçada, ficou sem parte de uma perna, daí o arrastar da mesma, pois utilizava uma prótese sem flexibilidade. (a tecnologia protésica não tinha chegado ainda às articulações, suponho)

Até aqui nada de extraordinário a não ser a minha atenção e espanto pela narrativa, pois era para mim surpreendente poder ouvir ao vivo, histórias dum participante na segunda guerra mundial.

Todavia cedo se me desfez o encanto.

Assim foi.

Palavra puxa palavra, falava eu da ditadura que ainda grassava em Portugal, das recentes lutas contra esse Estado, incluindo as estudantis (nas quais havia participado) da tragédia humana que proliferava por este Mundo fora, miséria, fome e provação de milhões de seres humanos.

Lembro-me, a este propósito, ter dado como exemplo a Índia e a possibilidade de ajuda dos países ricos (como a Alemanha) disponibilizando ajuda às necessidades prementes que aquele país necessitava…

Aí, inesperadamente, todo o ADN nazi do Gunter se revelou, plenamente.

Não!

A Índia não precisava de ajuda externa, coisa nenhuma.

Mandar para lá comida era agravar o problema.

Como?

Simplesmente porque desse modo eles ficavam com mais possibilidades de sobreviver, com mais força para copularem e, concomitantemente, aumentar a população, aumentar o mal.

A sua solução era simples: deixa-los morrer, naturalmente, de fome, ou doença.

Por isso e não obstante as assimetrias que ainda se verificam neste Planeta com 6.902  milhões de pessoas - a persistência da fome, miséria e desigualdades sociais - o movimento solidário de ajuda à tragédia do Haiti, me deixa mais confortado, mas não descansado, todavia.

Sejamos honestos e reconheçamos que antes do terramoto - mesmo considerando as recentes e cíclicas tempestades naturais que por ali são recorrentes - quem se importou, antes, com a miséria, com a tirania e violência que sobre o povo  Haitiano se abateu durante anos? 

Será mais ou menos um Dolar ou Euro depositado numa qualquer conta, uns milhões que sejam, por  alegadamente bondosa caridade que irá remediar este mal?

Será evocarmos os Deuses, rogando-lhes ajuda Divina?

Quem se importou, preocupou,  importa ou preocupa de forma consequente, pelos povos africanos, sul-americanos, sub-sarianos e orientais entre outros, que continuam a morrer, diariamente, com falta de tudo o que é essencial? (recordemos o que sem ser de dimensão ou origem idêntica, cá em Portugal começa a ter contornos e dimensão social séria)


Há certamente muita gente. Mas não toda da mesma forma.


Afinal,  alguma coisa mudou, mas muito pouco.


Mas também, muito mais é preciso. Sobretudo,  deixarmos de ser hipócritas.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Vísivel, finalmente!


Caros Amigos,
Finalmente e graças à solícita colaboração, empenho pessoal e profissionalismo de um Amigo e vizinho, consigo agora sim, tornar mais acessível um catálogo com parte relevante da minha obra pictórica.
Não sendo exaustiva, a mostra agora disponibilizada, possibilita , de melhor forma, a visão mais aproximada à realidade produzida.
Sugiro, modestamente, dêem um salto ao:
 www.somethingformypleasure.blogspot.com
e…, comentem, como vos aprazer ou desaprazer!

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

O Miguel, O Kafka e eu




Este fim de semana o Miguel , filhote de 15 anos a fazer 16 não tarda, meu único filho do meu segundo casamento, esteve cá em casa (bem como as filhotas Joana e Rita)
Nada de especial a não ser, ele Miguel, ter-me revelado estar a ler a Metamorfose do Kafka, para espanto meu, com agradável entusiasmo.
Exultei, pois com a idade dele, recordo-me de ler tudo o que me passava pelas mãos, tendo, com essa idade, lido, entre outros, Aquilino Ribeiro, com o dicionário ao lado, pois a dimensão do meu vocabulário, nessa altura, a tal não se conseguia acometer! (nesse tempo Kafka ainda não tinha sido editado entre nós)
Jubilando e para além de lhe o demonstrar, aproveitei para o incitar a manter  tal gosto pela leitura - como fundamental - lendo e lendo sempre, pois quem gosta de Kafka, por certo gostará de ler outros autores, diferentes, expondo ideias e conceitos que nos levem, de melhor forma, a entender o Mundo que nos rodeia, as Pessoas.


Eu, se ainda por cá estiver, me predispus a, modestamente, o aconselhar ler o que ainda hoje considero, essencial ler. Sobretudo, se aconselhe com quem bem mais sabe do que eu, que só sei que nada sei.
Por agora, regozijo-me e congratulo-me  que ele se mantenha, na Metamorfose, com o Kafka.
Num futuro mediato, espero  que ele consiga ser dominado pelo desejo de ler de que eu  fui possuído com a idade dele, reiteradamente, pelos anos fora, agora mais parcimoniosamente, por contrangimentos visuais.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Música e Palavras


Já agora...

Sem pretensões de intelectualite aguda, ou intenções de acabar ou diminuir a música pimba, aqui vos deixo uma pérola que recebi hoje de um amigo via email.


Não obstante as más condições acústicas ambientais, o multi-cromatismo dum mercado aliado à música, resulta num completo e soberbo (passe a redundância) resultado pedagógico em relação à música (e palavras), com efeitos de prazer lúdico bem evidentes nas imagens.

Seria uma coisa gira a aplicar, por exemplo, no MARLN, Ribeira ou Bulhão,ou ainda na Assembleia da República, porque não?

Juris et de jure, ou jure imperil?

Como exercício de cidadania (avançada) proponho-vos um artigo do MC, para reflexão.

Acho que vai sendo tempo de alguns dos que ainda conservam  - ou agora despertam  - para a necessidade de criar uma massa critica suficiente para mudar este estado de coisas, intervenham, activamente, chamando os bois pelo nome. 


A Mensagem

O conselheiro Noronha Nascimento deu-me há dois anos uma entrevista. Falou-se dos problemas gerais da Justiça em Portugal. Numa fase mais intensa da conversa, o presidente do Supremo Tribunal de Justiça invocou o "Paradigma kantiano" para sustentar a sua tese. Perguntei-lhe o que queria dizer com isso. "Está a querer fazer-me um exame?", ripostou, irritado com a minha impertinência ou desconhecimento. Ou com as duas coisas. "Não, pergunto-lhe do alto da minha ignorância", disse-lhe deixando que a impertinência perdurasse por si na insistência da dúvida (que era genuína). Noronha Nascimento respondeu-me com uma síntese maravilhosa do modelo filosófico que tem servido para explicar tudo e o seu contrário em campos tão diversos como a astronomia, a ciência política, a teologia. Para o presidente do Supremo Tribunal o Paradigma de Kant significava (entendi eu e anotei para referência futura) que se julga "coisas" (é o termo usado por Kant) diferentes de modo diferente e "coisas" iguais de modo igual. Reside aqui toda a estabilidade do Direito. É por isto que eu acho digno de atento registo que o presidente do Supremo tenha aposto despachos diferentes nos dois conjuntos de escutas das conversas entre Sócrates e Vara. Se o fez, foi porque considerou que são coisas diferentes. A 3 de Setembro, Noronha Nascimento considera o primeiro grupo de seis episódios de escutas que envolvem o primeiro-ministro como sendo nulas por terem sido recolhidas irregularmente. E por aí se fica. Dois meses depois instado a pronunciar-se sobre um novo grupo de cinco escutas entre Sócrates e Vara, o presidente do Supremo Tribunal adiciona às suas considerações sobre a nulidade das provas recolhidas um elemento novo: Considera que depois de avaliado este segundo conjunto de cinco escutas ele não denotava ilegalidades.

O presidente do Supremo Tribunal julga "coisas" iguais da mesma maneira. E "coisas diferentes" de modo diferente. Logo, o primeiro conjunto de seis escutas que recebeu é diferente do segundo grupo de cinco. Tão diferente que no primeiro conjunto que avaliou se limitou a considerar irregular o modo como tinha sido obtido. Declarando-o nulo por isso. Mas abstendo-se de qualquer comentário sobre valores que poderiam ser "ponderados em dimensão de ilícito penal". Tudo isso ficaria para o segundo conjunto que para Noronha Nascimento era não só inválido mas não era incriminatório. Portanto, o primeiro conjunto de seis conversas entre o primeiro-ministro e o vice-presidente do BCP que o presidente do Supremo Tribunal tinha avaliado era, apenas, "nulo". Mas poderia ter dimensões de crime. De facto, é de concluir que teria dimensões de crime. Porque ao ilibar no segundo Noronha Nascimento acusa no primeiro. A menos que o presidente do Supremo Tribunal de Justiça tivesse julgado as mesmas "coisas" de modo diferente. O que não pode ter acontecido.
Mário Crespo in Jornal de Notícias 04.01.2010

domingo, 3 de janeiro de 2010

Incontornavelmente, a todos os meus Amigos






Friendship is the kind of love
that never can grow old.
Warm and cozy it will stay
when other things are cold.


Assim é meus Amigos!


Ainda com restrições, mas mais apto para ir entrando nestas lides, não posso, por imperativo de carácter, deixar de efectuar um intróito de reconhecimento, sentido, a todos os que directa ou indirectamente me acompanharam neste período restritivo.


Não Vos prometo assídua permanência, neste ciberespaço, quer em comentários quer em asserções, mas conto, estar em tempo mediato, mais presente, junto de Vós.


Por isso e para não ser exaustivo, início este regresso, com uma modesta pretensão a poema, que Vos dedico, com muita amizade. (como Kandisky disse, para pintar abstracto, é condição essencial ser-se um verdadeiro poeta; no caso vertente, uma delas não sou, logo não terei nenhuma!)


Depois, fugazmente, justaponho pensamentos sobre a Amizade, de três autores que me são queridos e nos quais me revejo. (o último, provocatório é para o Jaime)



Amigos

Dia cinzento, pardacento,
Chuvoso, frio, sem alento,
Sem poder ler, tento escrever
Sentado, tentando aquecer.
Levanto-me, tento na tela algo pintar
Cuidadosamente, sem a querer marfar
Inspiração que se me desanda
Perdida, síncrona, quejanda.
Cá dentro, persiste o ruminar
Todos, a aflorarem ao Recordar
Levando-me a cogitar ideias, mais ideais,
Conduzindo-me a Amigos que esquecerei jamais.
J. Ferreira 03-01-2009



A Amizade Ideal 

Nada é mais agradável à alma do que uma amizade terna e fiel. É bom encontrarmos corações atenciosos, aos quais podes confiar todos os teus segredos sem perigo, cujas consciências receias menos do que a tua, cujas palavras suavizam as tuas inquietações, cujos conselhos facilitam as tuas decisões, cuja alegria dissipa a tua tristeza, cuja simples aparição te deixa radiante! Tanto quanto for possível, devemos escolher aqueles que estão livres de afecções: de facto, os vícios rastejam, passam de pessoa para pessoa com a proximidade e qualquer contacto com eles pode ser prejudicial.
Tal como numa epidemia, devemos ter o cuidado de não nos aproximarmos das pessoas afectadas, porque correremos perigo só de respirarmos perto delas, também, em relação aos amigos, devemos ter o cuidado de escolher aqueles que estão menos corrompidos: a doença começa quando se misturam os homens saudáveis com os doentes. Não estou, com isto, a exigir-te que procures e sigas apenas o sábio: de facto, onde encontrarás um homem destes, que procuro há tanto tempo? Procura o menos mau, antes de procurares o óptimo.
(...) Evitemos, sobretudo, os temperamentos tristes, que se lamentam de tudo e não deixam escapar uma única ocasião de se queixarem. Apesar de toda a fidelidade e de toda a bondade que possa demonstrar, um companheiro perturbado, que chora por tudo e por nada, é um inimigo da tranquilidade.
Séneca, in 'Cartas a Lucílio'


A Melhor Prova duma Real Amizade 

A melhor prova duma real amizade está em evitar os compromissos entre aqueles que se estimam. Ainda que devendo muito aos que muito me louvam, eu não quero ser-lhes obrigada pela gratidão. Mas sim grata porque estou com eles, devido a circunstâncias que a todos nós agradam e são um laço mais entre nós, sem constituírem um dever. Eu pretendo dizer da amizade o que Diógenes dizia do dinheiro: que ele o reavia dos seus amigos, e não que o pedia. Pois aquilo que os outros têm pelo sentimento comum não se pede, é património comum. Neste caso, a amizade.
Agustina Bessa-Luís, in 'Dicionário Imperfeito'


Amizade na Empatia Divergente 

As pessoas que mais admiro são aquelas que melhor divergem da minha pessoa. Claro está, só se diverge de outrem dentro do que nos é comum. Porque há quem nada tenha de comum connosco, nem sequer a própria existência e a mesma humanidade. E não esqueçamos que o espaço e o tempo são aparências por nós fabricadas para dar passo ao espírito e não lenha para nos queimarmos. Ao mesmo tempo e no mesmo espaço podem juntar-se as pessoas mais alheias entre si e como não acontece na História em tempos e espaços diferentes. A universalidade humana é tão vária que pode um satisfazer inteiramente a sua e sem que lhe passe sequer pela cabeça a de outro que satisfaça também completamente a dele.
O tempo de cada qual é o justo para si. Não é dado a ninguém a ocasião da polícia do tempo de outrem. De modo que à porta da nossa intimidade havemos de pôr a admiração por aquele que vai entrar, tanto em quanto diverge como em quanto coincide connosco. Por outras palavras: não vale mais o nosso mistério do que o de outro qualquer. Só o mistério chega inteiro ao fim.
Almada Negreiros, in 'Textos de Intervenção'