“Quem não se sente não é filho de
boa gente”
Repescando o recente apelo de Mário Soares na Aula
Magna à unidade Democrática e a sua
advertência à eminente possibilidade da violência ─ proveniente do estado de miséria e exclusão social a que chegamos ─ por coincidência, comparemos as palavras,
também recentes do Papa Francisco:
"Enquanto não se eliminar a
exclusão e a desigualdade social, na sociedade e entre vários povos, será
impossível erradicar a violência. Acusamos os pobres da violência, mas, sem
igualdade de oportunidades, as diferentes formas de agressão e de guerra
encontrarão terreno fértil que, tarde ou cedo, provocará a explosão"
escreveu o papa na exortação apostólica "Evangelii Gaudium" (A Alegria
do Evangelho)
Trata-se de um documento de 142 páginas, o primeiro do género
do seu pontificado, dá orientações sobre a nova evangelização, na sequência da
assembleia sinodal de Outubro de 2012, e, num sentido mais lato, apresenta o
programa e as ideias pessoais do Papa.
Assim e considerando as interpretações mais ou menos
incendiárias de alguns, acusando Mário Soares de incentivar a violência,
poderão esses alguns considerar, de igual modo, o Papa com o mesmo sentido?
Se nos abstrairmos de considerar o apelo de Soares à
demissão do governo e do presidente da república, substantivamente, o conteúdo
apelativo à intervenção e acção política quanto à exclusão social, miséria e
indigência, teremos de concordar que ambos tocaram na mesma tecla, por palavras
diferentes.
Pela importância do assunto não o poderemos considerar mera diferença
semântica. Logo, há que tentar perceber o significado da Honra.
Será, desse modo, possível perceber um dos valores
fundamentais do Homem na História, que hoje, infelizmente, são completamente
ignorados pelos políticos, continuando a aprofundar-se as desigualdades que
provocam os actuais movimentos de descontentamento, reflexos directos da
insatisfação e indignação.
Quadro de Patricia Calabrese