Ao ver e ouvir hoje,
na CNN, o presidente Obama anunciar que deu instruções precisas para que os
procedimentos de espionagem americanos sejam modificados, fiquei ainda com mais
dúvidas do que as que já possuía.
Isto só por
um simples facto: ele não precisou, quem e como esses novos procedimentos iam
ser controlados. (por cá como sabem
passa-se o mesmo. A PJ escuta quem lhe dá na gana sem ser sujeita a qualquer
controle. O governo através do cruzamento dos gastos dos cidadãos pode
facilmente saber onde e quanto o cidadão deve, gastou e por aí fora…)
Curiosamente
é o próprio Obama a reconhecer a utilidade geral e especifica
na recolha de elementos e dados através da espionagem, (alegadamente quanto a acções terroristas, excluindo escutas a países aliados...) concluindo que é licito
faze-lo na exacta medida em que os outros países também o fazem, (sem citar quais) enfatizando porém, que não tem culpa que o seu sistema seja mais proficiente…
Vivemos hoje
factualmente com uma dificuldade enorme em encontrar conceitos globais para
aplicação de normas equilibradas tendo em vista resolver os evidentes conflitos
entre a privacidade e a falta de transparência nos meios utilizados na espionagem, bem
como a forma de a poder controlar.
Como cidadãos, sentimo-nos
invariavelmente revoltados, preocupados e inseguros pelas acções de espionagem
em geral, indefesos para a ultrapassar com eficácia.
Evocando o mais recente e
badalado caso, o da NSA, bem como todos os clamores levantados ─ politicos e
publicos em geral ─ com origem nas confissões e divulgações do dissidente
Edward Snowden, a NSA continua, intencionalmente, a carregar dados da nossa
informação pessoal tornada acessível pelo Facebook, Google, Twitter e
similares.
Obama não terá sido tão
explicito hoje, mas pelo que disse, (e
sobretudo pelo que não disse) torna-se perfeitamente implícito que assim é.
Não obstante destes factos, a recorrência
continuada na utilização das redes sociais continua…serenamente, sem a percepção,
pelo cidadão comum, do perigo real a que se está a submeter.
A persistência autista na
utilização destas redes sociais, permite, diariamente, o acesso ilimitado e
indiscriminado à informação privava (que deveria ser...) de cada utilizador. Segundo revelação recente, este
tipo de espionagem electrónica, já é possível mesmo a computadores que não
estejam ligados à internet. Está em sistema, experimental ainda, deverá, em breve,
alargar as sua capacidades operacionais.
Não se trata de recolha de
dados com arquivo de caracter evanescente. Essas recolhas ficam retidas em arquivo definitivo, em bases de dados gigantescas,
sempre acessíveis, a qualquer momento.
Não desejando anatematizar estas
redes, nem tão pouco os seus actuais confessos e inveterados utilizadores,
julgo que será importante explorar e alertar para a natureza contraditória das suas
acções e crenças, relativamente à privacidade e à transparência.
Para isso, há que analisar, com honestidade intelectual, as queixas
que amigos, família e público em geral, emitem amiúde, sobre “atentados à
privacidade” as quais, após análise séria e ponderada se configuram como
contraditórias.
Julgo que esta tipologia de reacções é inerente ao Ser Humano…
Deseja-se e reclama-se por privacidade, desejando-se também ao mesmo
tempo, partilhar detalhes das Suas vidas, estados de alma ou vivências, partilhando-as
com outros.
Não tenho dúvidas de que, por vezes, estas duas pretensões estão em
perfeito conflito, completamente insanável.
Os actuais utilizadores do Facebook, Google, Twitter e similares, sabem que tenho
razão, pois são Mundos Globais sem o controlo dos intervenientes, para além da
aposição/inserção de textos em forma de mensagens ou respostas/comentários. O
que lá se coloca é lido por quem o procure ou não, tornando-se acessível a um
número incontrolável de indivíduos e entidades, umas bem intencionadas, outras
possivelmente, com fins maliciosos. Adicionalmente, e dentro do campo
malicioso, poderão ainda ser introduzidas componentes de espionagem nos PC’s ou
pior ainda, Malware pernicioso, afectando por vezes todo o bom funcionamento do
PC incluindo limpeza total de dados do mesmo.
Por isso, desisti faz tempo, dessas redes socias, que me impunham receber,
sem o solicitar, mensagens proveniente de uma massa incógnita e cinzenta de
cidadãos, amorfos ou agressivos, indecisos ou com literacia civilizacional
duvidosa ou nula, passando a utilizar outras formas comunicacionais para
divulgar o que penso e sinto, de forma mais controlada, ou pelo menos, por
forma que possa mais transparentemente identificar, quem o lê, ouve ou comenta.
É certamente um processo mais restritivo e com menor resultado
mediático, não aconselhável portanto para quem procura as luzes feéricas dos
palcos cibernéticos, ou simplesmente ultrapassar estados de solidão aguda. Mas,
indubitavelmente, tem duas vantagens: ser eu a decidir e seleccionar a quem
endereçar o que penso, ou a um público-alvo indiscriminado, o qual desejo,
intencionalmente provocar.(que não obstante não reagir frontalmente, sei onde se encontra)
Estou obviamente a referir-me aos meios que me permitem o envio e
recepção de mensagens de correio electrónico e a utilização do espaço da blogosfera.
Estes não estarão isentos de controlo e espionagem externa, mas ao situarem-se num
meio muito mais restrito, são passíveis de detecção e identificação mais fácil.
Existem hoje ferramentas que detectam espectros anti-spy-ware bastante
eficazes, que, utilizados regularmente, identificam a origem, despistam e eliminam ataques deste tipo.
A tecnologia está hoje em mutação acelerada, a uma velocidade tal, que
acredito em prazo mediato, seremos confrontados com novas formas de
comunicação; mais rápidas e mais intrusivas, mais globais ainda do que as
presentes, mas teremos, tal como presentemente, de estar atentos e seleccionar
as que nos garantam melhor salvaguarda à nossa privacidade.
Adicionalmente, devemos contribuir activa e construtivamente para que
sejam criadas entidades ou instituições independentes (dos poderes políticos e financeiros) suficientemente credíveis que
nos defendam e salvaguardem eficazmente deste tipo de ataques e intrusões..
Para isso, temos de ser menos permissivos, mais atentos,
interventivos, selectivos e, sobretudo, intransigentes com as nossas escolhas.
À distância de meio século, atentemos no que Norbert Wiener, o pai da
cibernética, disse: “Progresso impõe não apenas novas possibilidades para o futuro, mas novas
restrições.” ou ainda: “A
mudança para melhor só tem início quando se enxerga, com clareza, a próxima
etapa”
José Ferreira
17-01-2014