... ou o fandango das cadeiras
Olhando
à nossa volta, quer vendo e escutando as diferentes estações de TV quer lendo
os jornais e revistas, nacionais e internacionais, facilmente nos interrogamos
sobre a sanidade mental da grande maioria dos responsáveis governantes actuais,
sobretudo aqueles que nos dizem mais directamente respeito, nacionais e
europeus.
A
sua actuação, continua recorrentemente em roda livre na maioria dos casos – com
uma oposição que não consegue desligar-se do intento de pretender ser mais do
que alternância, em vez de alternativa, embora alegando querer fazer-se crer
colada à segunda. Coloca-se portanto na confortável posição de em nada
contribuir para a solução dos problemas reais. Pior, rejeita liminarmente
entender-se, quer entre si, quer entre os restantes agrupamentos que poderiam
gerar alguma massa critica relevante, consequente.
Por
seu lado, os governos e sobretudo as forças partidárias que os apoiam,
identificadas com a política que exerce o poder, (ensaiando por vezes pseudo-
protestos, insipientes e inconsequentes) mantêm-se na luta surda (bem visível)
na manutenção dos privilégios anteriormente adquiridos através do voto, com o
evidente objectivo, para além da sua manutenção, reconquistar e assegurar o
futuro das suas posições, relativas ou absolutas, mesmo que conseguidas em
coligação.
É
portanto insofismável que com o sistema actual da chamada “Democracia
Representativa” que possuímos, a grande maioria dos cidadãos, acaba por não ser
minimamente representada ─ grande parte deles votantes dessas mesmas forças ─
sendo por isso, recorrentemente espoliada e violentada nos seus mais primários
direitos a começar pelo da cidadania, sem qualquer possibilidade de recurso.
Estes
factos, baseados na cega aplicação de princípios partidocráticos, conduz-nos
portanto a um estado latente de fraude que redunda num profundo desengano dos
cidadãos e da sua concomitante descrença nos partidos políticos e no sistema
por eles-próprios perpetrado, vendido pressupostamente (sobretudo durante as
campanhas eleitorais) como forma representativa na intenção da defesa dos genuínos interesses dos cidadãos votantes.
Assim,
há que repensar o sistema actual tendo em vista inverter, ou, porque não,
muda-lo radicalmente, abolindo os conluios conclavistas combinados de acordo
com os interesses instalados, ou a instalar, sempre cozinhados nos bastidores
dos gabinetes pelos cabeça-de-pontificados, antes de as ideias serem
plebiscitadas publicamente. Asseguram-se, desse modo, a defesa dos interesses
de cada parte integrante, sempre em regime de alternância em sucessão sucessiva
de sucessões, que se sucedem sem cessar, salvo se algo suceder em contrário,
interrompendo essas ciclo de sucessões
alternantes.
Se
recuarmos um pouco no Tempo, encontraremos filósofos, escritores e gente das
franjas de pensadores, todos intelectuais que nos deixaram algumas pistas
importantes, sobretudo na interrogação da necessidade de possuirmos um sistema
político baseado em partidos políticos, ou, pelo menos, na sua actual forma de
representatividade.
Kant, Heidegger,
Engels, Breton, Nietzsche, Simone
Weil, Deleuse ou Satre entre outros, afloraram este tema por formas, concepções
filosóficas e teses diferenciadas, porventura com maior ou menor grau de
radicalismo ideológico, demonstrando todavia um fio condutor que os une. Este
evidencia-se ao colocarem em questão, por forma mais ou menos explícita, as regras
impostas nas sociedades onde viveram,
(totalitárias algumas) sobretudo no que concerne aos sistemas de repartição da
riqueza produzida e a constatação factual da completa falência dos diferentes
sistemas vigentes à época.
De
uma ou de outra forma, colocam em questão a legitimidade existencial do poder
organizado partidariamente, (partidocracia) considerando-o um veículo ideal à
corrupção e à ditadura das maiorias “democraticamente eleitas.” Teremos de
atentar que o sistema criado e desenvolvido ao longo do tempo, é hoje um
sistema com um perfeito autofinanciamento perpetrado e legislado pelos próprios
parlamentares através da acção votante "activa" dos incautos cidadãos. Esse dinheiro sai,
como sabemos, dos orçamentos do Estado, na proporção dos votos recolhidos,
logo, do bolso dos ingénuos votantes.
É
evidente que vivemos hoje num sistema algo diferente na forma, mas não no
conteúdo. De facto, somos presentemente objecto de um estado de experimentação
abusiva da condição sociológica/financeiro/política, conduzidos pela batuta
de grupos de técnicos teóricos, ou por
políticos incompetentes ou corruptos, impondo por aplicação cega as suas
próprias concepções políticas e ideológicas
a um rebanho de obedientes cidadãos, pacíficos e inertes (seus eleitores
ou não) mesmo quando lhes expropriam a quota-parte do que produziram ou do que
fruem na velhice já sem produzir, após largos anos de contributo produtivo.
No início do século XXI, encontramo-nos pois inexoravelmente
na situação paradoxal de adormecimento; a grande maioria em estado letárgico,
de tal forma apática, que nem sequer entende que é ele-próprio-cidadão a
contribuir para a sustentação do sistema e, claro, da sua própria desgraça.
Coloca-se
portanto a questão de identificarmo-nos como “nós enquanto cidadãos”, antes de
“apoiantes deste ou daquele partido”, partidos que, na prática durante mais de
um século, têm contribuído para a exploração do cidadão; em benefício próprio,
singular ou das suas máquinas partidárias, seus apoiantes ou ingénuos
simpatizantes ou ainda muitas vezes, mecenas em sede-própria ou com expectável
futuro-beneficio-próprio.
É
certo que conseguimos neste longo período de tempo melhorar o nível e qualidade
de vida dos cidadãos em geral. Esse facto reflectiu, na sua maioria, lutas esforçadas
na defesa da sua quota-parte na produção de riqueza criada. Por delapidação
inconsciente e leviana, má gestão de recursos e ganância desenfreada, hoje
encontramos a classe política dominante-alternante, a tentar espoliar as
classes que contribuíram decisivamente na construção de toda a pirâmide
produtiva, que eles, políticos, deliberadamente ou não, desmoronaram e
continuam claramente empenhados em desmantelar, para protecção do seu
bem-estar-próprio e dos seus mentores-beneficiários directos, leia-se, o poderio
económico-financeiro.
Estamos
assim perante uma necessidade imperiosa de inversão do critério de valores, de
paradigma. Não poderemos continuar a permitir que os políticos através dos seus
partidos (ou alguns dos seus partidários, à
revelia dos partidos a que pertencem, como se começa a verificar…) façam
como Pilatos : “um cidadão a mais ou a menos ─ que importa?”
Temos
que lutar para podermos regressar ao estádio que nos distingue dos animais
irracionais: utilizar o primado da inteligência em direcção ao Senso Comum e à
Razão; evitando, contornando, vencendo, este estado actual de raciocínios,
alegadamente técnicos, mas de facto subtis, armadilhados e falaciosos, sempre
com ónus para o vulgar cidadão e benefício para o poder. (…político e financeiro)
Para
tal, há que dar um sinal claro, suficientemente perceptível a todos os partidos
políticos sem excepção e sobretudo aos” catedráticos” da política. Sem recorrer
à violência ou sublevação civil julgo só existir uma forma: demonstrar nas
urnas o repúdio ao sistema, não votando em nenhum dos partidos existentes.
Claro
que os habituais clientes partidários, ou aspirantes a tal, votarão sempre. Mas
não chegarão por certo para garantirem, sozinhos, uma representatividade
efectiva. Uma atitude destas implicará por certo a reflexão dos partidos em
aceitar ─ com a humildade que lhes tem faltado ─ a imperiosa necessidade de
considerar o cidadão fora do âmbito clientelar da partidocracia, falando,
discutindo em conjunto entre-si, por forma a encontrarem formas consensuais na
resolução dos reais problemas do País.
Estará
nas nossas mãos que tal se venha a realizar!.
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