terça-feira, 1 de outubro de 2013

Eleições Autárquicas 2013




Eleições autárquicas: escaras dissimuladas…e o falacioso  autismo partidocrático

Foram no passado domingo e os resultados finais já se encontram disponíveis. As freguesias que boicotaram as eleições (2) não irão certamente alterar substancialmente os resultados já escrutinados. Sem dúvida que os seus resultados indiciam um início de mudança do paradigma político actual.
Por muitos paliativos que os partidos coloquem nas feridas, elas, as escaras, estão lá, sangram de novo, fendas abertas por debaixo da pele aparentemente escarificada; sem exanimação ou desfalecimento visíveis, induzindo ausência de dor, pois nenhum dos partidos se lamenta. Esse continua a ser o autismo da partidocracia, continuando a necessitar de urgente aplicação de probidade adequada.
Assim, cada um alegremente à sua maneira, trata de classificar as perdas como irrelevantes e os ganhos em honrosas conquistas sem sequer considerar, com a mais elementar minudência, o significado dos resultados obtidos, para além da análise facciosa dos números, não lhes interessando, por ora, analisar e dissecar as efectivas razões que estiveram na sua origem.
É evidente que há vitórias que são incontestáveis, resultado de posturas recorrentes, misto de acção postular e demonstração prática de ideologias e lealdade ás mesmas. Salvo raras excepções, todas elas estão muito mais ligadas às pessoas que as representaram do que ao postulado partidocrático.
Fui dos que aqui e não só neste local, por este meio e outros, advoguei uma posição crítica extrema face a todas as eleições, isto tendo em atenção a perniciosa acção dos partidos políticos em geral, em especial dos alegadamente chamados do “arco do poder”. Essa posição traduziu-se no “abstencionismo militante” (abstenção pura, votar branco ou nulo)
Foi e continua a ser uma posição que pretende criar massa crítica suficiente para alertar, eficazmente, a partidocracia sufocante implantada, por forma a possibilitar um entendimento abrangente entre todos os partidos políticos, tendo em vista a defesa dos reais interesses dos cidadãos, ao invés da escandalosa defesa dos interesses das suas hostes partidárias.
Não obstante a evidente matriz como que marca-de-água-politica ainda inculcada em grande parte dos cidadãos, sem dúvida que essa filosofia acabou por ser entendida pelos que directamente contactei mas, mais importante, por ser sentida e partilhada por muitos outros cidadãos, fora deste círculo, acabando por ser aplicada por forma muito mais ampla e diversificada. A votação em candidatos independentes foi outra forma muito expressiva de repúdio ao sistema partidocrático vigente. (relembro que dada a especificidade destas eleições, eu próprio sugeri, este tipo de voto, como excepção, posto que o conhecimento pessoal dos candidatos influiria e possibilitaria um sentido de voto com maior clareza, pois tratava-se de votar em pessoas, não nos símbolos formatados que a diferente partidocracia pretendia impingir)
Por outro lado, o sentimento de desagrado subjacente à insatisfação com o governo actual, terá sido outro factor que contribuiu para toldar a real intuição e concomitante aplicação do voto, dando-lhe um sentido mais adequado. Falo obviamente da transferência de votos para outros partidos, com intenção claramente punitiva.
Conjugando todas estas posições, atentemos nos seguintes dados:
1.      Total de Inscritos:                                               9.497.404 (a)
2.      Votos expressos:                                                  4.995.174  ─ 52,6%
3.      Abstencionistas:                                                  4.502.230  ─ 47,4%
4.      Votos Brancos:                                                        147.124   2,95%
5.      Votos em Nulos:                                                      193.334 –   3,87% 
6.      Votos em independentes:                                         344.566 –   6,90%
7.      Total que não votou em partidos políticos:      5.187.254 – 54,6%
8.      Total que votou em partidos políticos:             4.310.150 – 45,4%
(a) Os dados do recenseamento eleitoral são desde longa data de baixa fiabilidade, Presentemente, não estará considerado o crescimento da emigração, bem como a actualização dos óbitos A discrepância entre os números de eleitores inscritos nos cadernos eleitorais (9.497.404) e de cidadãos residentes em Portugal com mais de 18 anos, (8.607.853, i.e. menos 889.551 cidadãos) é evidente e considerando-a, modificará quer a taxa de abstenção, quer a de votantes, significando  uma diferença aproximado de 9,00% ou seja, se considerarmos a abstenção em relação ao número de cidadãos residentes com mais de 18 anos, teremos uma abstenção na ordem dos 41.9% o que será mais realista…Teríamos assim, para o total de cidadãos que não votaram em partidos políticos (4.297.703) uma taxa de 49,9% ao que corresponderia uma representatividade partidária de 50,0%
Poderemos portanto, face aos números oficiais, concluir que estas eleições resultaram numa maioria de cidadãos (54,6%) fora do sistema partidocrático, não sendo portanto representados por nenhum partido político. Esta será certamente uma análise que os partidos políticos não irão fazer, continuando a não colher os ensinamentos bem explícitos que estes números representam. Se considerarmos os resultados face ao número de cidadãos com idade superior a 18 anos, teremos mesmo assim, um país claramente dividido em duas metades.
Não sou apologista da abolição pura dos partidos políticos. Continuo convicto que a sua existência é essencial numa Democracia. Todavia a sua existência nos moldes e formas de actuar vigentes tem de mudar. Não servem os cidadãos e, desse modo, a sua existência tem de ser entendida com o objectivo recorrentemente claro de defender a sua clientela partidária, os seus apaniguados.
Há que mudar este regime, pois doutra forma, continuaremos cada dia que passa, a cavar mais fundo o fosso entre ricos e pobres, com o alargamento incontrolado da indigência da maioria dos cidadãos. Será por isso necessário que continuemos a actuar por forma a que os partidos políticos entendam que representar os cidadãos não é servirem-se do seu voto, mas antes que a sua escolha, ao votarem, seja respeitada em defesa do seu bem-estar e não proporcionar somente o bem-estar da classe politica em que votaram. Teremos portanto que utilizar sabiamente a arma veicular que possuímos com maior impacto: as eleições e a forma como aproveitamos essa oportunidade em expressar o nosso repúdio e descontentamento às políticas partidocráticas vigentes que nos sufocam.

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