sexta-feira, 11 de outubro de 2013

A demência anda à solta



Finalmente, entendi!
Segundo os dados recentemente revelados pela Aliança Europeia Contra a Depressão, 22% dos portugueses i.e., aproximadamente 1 em cada 4,  estará com problemas psiquiátricos. (leia-se sintomatologias de depressão aguda, demência ou disfunções cognitivas equivalentes) Revela ainda ou ajuda a entender a razão ─ dando-lhe forma plausível de compreensão ─ para o elevado consumo de ansiolíticos, sedativos e antidepressivos.

Sem ser especialista na matéria mas atento ao que me rodeia, sobretudo ao nível comportamental das pessoas, não fico surpreendido. De facto para além do que me é dado observar diariamente, eu próprio me interrogo, por vezes, quanto à minha sanidade mental, sobretudo quando paro para reflectir em assuntos cruciais, que me preocupam e oprimem, mal que suponho, preocupa e oprime milhões de cidadãos portugueses, tais como:

·       A permanente insegurança e incerteza, face aos expectáveis rendimentos   disponíveis, mesmo aqueles que se baseiam na retribuição contributiva de longos anos.
·       A revolta, por ora surda, mas já generalizada, pela recorrente redução das condições de cidadania, de subsistência económica, financeira e de  assistência social,  infligida cegamente aos cidadãos, em especial à maioria com menores recursos e desprotegidos, tais como desempregados de longa duração crianças e idosos.
·       A vergonha de viver num país que não obstante ter 800 e muitos anos de história, que descobriu 2/3 do Mundo e desbravou outro tanto, empurra para a indigência grande parte da sua população, obrigando sobretudo os jovens mais qualificados a emigrarem em busca de subsistência
·       A tristeza de viver num país que é governado por um grupo de aprendizes-de- feiticeiro, circunscritos a uma visão política de curto prazo, insensíveis e autistas, beneficiando sempre os mais poderosos em detrimento dos que mais precisam.
·       A ignorância em como manter o inconformismo necessário para criticar eficazmente quem governou e governa os destinos deste país e não teve nem tem o mínimo de competência para o fazer.
·        A conclusão que é quase impossível garantir às futuras gerações, filhos e netos, condições decentes de sobrevivência
·        A constatação da impotência em modificar a presente mentalidade partidocrática incrustada no tecido político, continuando esta a parasitar nas vantagens de todo o sistema, sorvendo e desviando, cada vez mais, relevante parte da riqueza produzida pelos que trabalharam e pelos que ainda trabalham; os que produziram e ainda produzem.
·       A Incerteza e incapacidade de antecipar por forma prospectiva as regras fiscais permanentemente em mutação, aplicadas sempre de acordo com as necessidades orçamentais supervenientes, mais do que aquelas estruturalmente planeadas.
·       A completa e redundante prática do discurso politico; falacioso, capcioso, tentando assim enredar os cidadãos, mentindo por vezes descaradamente, dizendo hoje, desdizendo-se amanhã ou logo de seguida se necessário,  com ligeireza, insolente impudência e total impunidade.
·       A demonstração da inexistência de planos de acção estabelecidos com o cuidado e estudo necessários tendo em vista resolver os problemas estruturais do país e dos cidadãos, revelando claramente  uma ausência de politicas criteriosas, estudadas e  planificadas, aplicando remendos sobre remendos em acções circunstanciais ao sabor das diferentes problemáticas, muitas delas resultantes da má aplicação-própria de remédios em bases teórico-experimentais, menosprezando sobranceiramente os ensinamentos do empirismo.
·       A incúria e desdém pela sanidade mental e da subsistência existencial dos cidadãos, provocando-lhes sistematicamente instabilidade através de um clima de terrorismo psicológico, consumado em medidas de coacção financeira ou de pré-aviso-alarmista de catástrofes ribombantes, para as justificar em termos futuros, sempre atentatórias aos seus direitos básicos. 
.      A incapacidade dos partidos políticos entenderem que é fundamental encontrar pelo menos consensos minimos nas áreas mais sensíveis e importantes para o país e para os cidadãos, deixando de se acantonarem a um ostracismo pungente, negativista que nos arrasta para o abismo.

Por isto tudo e muito mais que não me ocorre agora, entendi finalmente, as razões da elevada percentagem de portugueses em risco de demência total. Não admira que assim seja.

O mais grave será sem dúvida constatar que este estado demencial do país começa exactamente nos membros do presente governo ao ponto de serem eles próprios o mal e não o remédio para a cura das doenças com que vão infectando os cidadãos  ─ destruindo, desse modo, os tecidos ainda saudáveis na nossa parte pensante ─ em gigantesco vórtice de não-ideias, propositadamente ambíguas  ou incompletas, sempre dúbias, por forma a permitir, amanhã, serem modificadas consoante as necessidades.

Assim continuarão a alimentar ad hoc não só a sua própria demência, mas a agravar, inexoravelmente, a então já inelutável sanidade mental dos cidadãos.

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