Como já é do conhecimento quer de
familiares, quer de amigos mais próximos ou dos que possuo há mais tempo, sou ateu.
Não obstante esse facto,
reconheço a utilidade ─ em tempo de crise ou não ─ de algumas organizações, maioritariamente
de iniciativa, dependentes ou subordinadas a ordens ou seitas religiosas ou similares,
algumas, poucas, a organizações internacionais desvinculadas das áreas
religiosas.
Revejo-me portanto na essência
Humanista dos princípios, propósitos e desempenhos da maioria dessas
organizações, cuja acção meritória, depende, na sua maioria, da esmola de quem
tem alguma coisa que ainda possa contribuir para os que muito pouco ou nada
possuem.
Olhando à nossa volta, vendo com
isenção o que se tem passado e passa no nosso país, compreender-se-á, sem
grande perplexidade, a origem das dificuldades que algumas dessas organizações
enfrentam presentemente.
De facto, parte significativa dos
que contribuíram, mesmo que modestamente, estão hoje, eles próprios em
dificuldades tendo deixado de poder contribuir. Alguns até, tendo sido
contribuintes num passado recente, encontram-se hoje na situação de requerer,
por indigência superlativa, o apoio que antes facultaram a outros.
É, quer queiramos quer não, o
resultado de políticas que têm vindo a ser aplicadas a nível global, com
especial incidência na Europa e, dentro desta, em países governados por gente
seguidista, autista, sem competência e sensibilidade social, sobretudo
coniventes com o princípio ideológico dogmático de que o Povo tem de ser pobre
para melhor obedecer.
Como é evidente, nestas
circunstâncias e situação de pobreza dos cidadãos, a função e acção das
entidades e Organizações de Caridade torna-se um instrumento fundamental, mesmo
que os governos queiram fazer crer que são eles os impulsionadores desses
apoios.
Ao contrário, no extremo oposto da
pirâmide, a riqueza engrossa despudoradamente os seus proventos, alguns obtidos
com a desgraça dos que já pouco tinham. Estes, invariavelmente, possuem melhor
e mais eficaz protecção dos governos.
Todos sabemos, incluindo os
governos e todos os partidos políticos, que assim é. Os bancos, os
representantes e detentores do poder financeiro, bem como todos os seus
agentes, sabem que assim é. Por isso, para a maioria dos cidadãos, viver nas
circunstâncias actuais tornou-se um acto de coragem. Trata-se afinal de tentar
sobreviver, mais do que viver.
É incontestável que não poderá
haver Democracia sem partidos políticos. Partidos políticos, sobretudo os do
chamado arco-de-governação, como estão é que não. Todos nós, cidadãos lúcidos,
temos obrigação de esclarecer os que ainda tenham dúvidas sobre as
consequências em manter o estado actual de coisas. Trata-se simplesmente de
evitar a implantação definitiva de um novo regime político encetada há três
anos. Trata-se afinal, de evitar a institucionalização da pobreza como forma
normal de vida.
Zé Ferreira
22-04-2014