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liberdade não é um ser: é o ser do homem, quer dizer, o seu nada de ser.
(...) O homem não pode ser ora livre, ora escravo; ele é inteiramente e sempre
livre, ou não é.
Jean-Paul Sartre, in 'O Ser e o Nada'
Jean-Paul Sartre, in 'O Ser e o Nada'
Atentemos ao que sucedeu recentemente nas eleições francesas.
É de facto resultado da aplicação de políticas alegadamente de esquerda, que
esbarraram no já saturado e sofrido sentimento de desconfiança, desilusão e
constatação factual dos cidadãos, quanto à sua ineficiência e concomitante
agravamento das condições de vida dos cidadãos em geral, empurrando-os, desta
maneira, para o voto à direita.
Assim se compreenderá a severa derrota da esquerda, com a evidente vitória da direita incluindo a extrema direita, (FN) esta última agora vestida
de roupagens bem mais moderadas, mas, sem dúvida, com ideias socialmente bem
diversas daquelas que os partidos de esquerda alegadamente defendiam, mas não
praticaram.
Foi portanto o reflexo da desilusãio dos franceses, preço que François Hollande e o PS
francês pagaram pela falta de visão e
prática falaciosa em política, aplicando medidas seguidistas impostas pelas
cabeças dominantes na Europa. Este não terá sido um acontecimento evanescente,
irá pelo contrário repetir-se, com idêntico resultado, nas próximas eleições
Europeias.
Claro que desta vez o mal será geral, não só o da França. As
excepções serão possivelmente Portugal onde a extrema direita não possui, ainda,
representação significativa, ou está sériamente comprometida com a presente miséria que se vive em Portugal. Este panorama premonitório, leva-nos à questão
central que se circunscreve ao futuro da Europa tal como se encontra
actualmente.
Não obstante já se sentir um sentimento latente na necessidade de
mudança ─ encarando os reais problemas estruturais da europa, sobretudo quanto às
diferenças da riqueza produzida entre no norte e sul ─ não será credível prever
a disponibilidade dos países do norte em aceitar prescindir de parte da sua
riqueza, em benefício dos países do sul.
As mudanças estruturais a implantar seriam de tal modo
gravosas que implicariam mudanças socialmente penosas para os cidadãos dos
países abonadores, que liminarmente viriam a ser, como já são em parte,
rejeitados pelos políticos e cidadãos desses países,
Assim, quer queiramos, quer não, teremos de ser confrontados
com a inexorável divisão da Europa a dois níveis, ou blocos, seja qual for o nome
que viermos a escolher: o bloco norte e o bloco sul, ou mais depreciativamente,
os países Europeus do norte e os países Europeus do sul, periféricos aos restantes..
Alternativamente, de moto-próprio ou empurrados, a saída da
União Europeia será outro cenário a considerar como admissível, embora previsivelmente,
mais doloroso. Claro que pela gravidade, premência e complexidade técnica
envolvidas, este assunto ─ numa ou noutra modalidade ─ já deveria ter sido objecto de espaço para uma ampla
e séria discussão. Virá, estou certo, a sê-lo após as próximas eleições
europeias.
Não sei se nessa altura já não será tarde, mas certamente
será bem mais doloroso do que teria sido se se tivesse considerado,
atempadamente essa possibilidade. Por outro lado, a nossa permanência tal como
estamos, continuará a penalizar-nos como até aqui, sem qualquer horizonte de
melhoria de vida dos cidadãos, a curto, médio e longo prazos.
Será portanto fundamental pressionarmos a discussão deste
assunto por forma isenta de dogmatismos ideológicos, com isenção intelectual
suficiente para que Portugal possa de novo vir a sobreviver, sem ilusões, dentro das suas limitações, mas
com dignidade, sem estar reduzido à condição de pedinte de esmolas envenenadas,
sempre a um clube de ricos; que nos considera de segunda classe, mas nem sequer
tem o rebuço em exibir os ganhos da sua usura.
Valerá por certo bem mais comermos o nosso repolho, do que nos engasgarmos com a couve de Bruxelas.
Zé Ferreira – 02-04-2014
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