Começo a estar cansado de lutar por uma mudança substantiva no nosso paupérrimo panorama ideológico-político.
As transmutações recentes a que fui sujeito, pela redução recorrente nos níveis de saúde, dinheiro e concomitantes expectativas, limitaram a minha paciência e contribuíram decididamente para minar-me a mente e o corpo, deixando-me, cada dia que passa, com menor capacidade de resiliência.
Confesso que os resultados das recentes eleições, não obstante nada resolverem de fundo, deram-me algum conforto, pois desde longa data que venho pugnando (nomeadamente neste espaço) por uma atitude sufragista dos cidadãos, que demonstrasse, claramente, o desagrado e repulsa à prática implantada da partidocracia. Como forma introdutória inicial sugeri a abstenção, mais tarde, recorrentemente, advogando o voto nulo ou branco, como forma mais eficaz, logo consequente.
Não obstante esse parco conforto, mantenho uma desconfiança
latente, que se vai inculcando cada dia que passa, estado de espirito baseado
na auscultação das diferentes reacções políticas, (provenientes de todas as
colorações) quer locais, quer genericamente por toda a Europa, pois embora
revelem alguma diferença discursiva ─ reconhecendo parcialmente que a sua acção
foi deficiente, admitindo até ser necessário mudar de politicas ─ não são
suficientemente convincentes, por falta de substrato, a ponto de me levarem a
acreditar que tais intenções, não passam disso mesmo, mais uma vez,
demonstrativas de vacuidade e ausência de honestidade.
Quem me lê regularmente, sabe que por sistema e defeito, não
costumo efectuar análises críticas de caracter partidário. Todavia a recente
ocorrência que envolve o PS é bem demonstrativa do que venho criticando a toda
a partidocracia em geral. O domínio dos aparelhos partidocráticos acaba por
provocar a entropia aparente do sistema, bloqueando o desenvolvimento de
ideias, numa primeira fase a nível partidário, acabando por alastrar a todo o
tecido político activo, actuando como tampão de completa inexpugnabilidade à
mudança.
A questão fulcral será
portanto saber se a interpretação dos resultados eleitorais virá ainda ou não a
revelar algum bom senso e corresponder, por isso, a mudanças substantivas nos
comportamentos e políticas, por forma suficientemente clara, evidente e
consequente que seja sentida, a curto prazo pelos cidadãos como uma intenção política
genuína, traduzida em práticas reais na sua aplicação.
Esperemos que a costumeiras e enfadonhas ladainhas, apresentadas
nas falaciosas retóricas para débito mediático desapareçam, e, em seu lugar,
apareça obra-feita em efectivo benefício dos cidadãos. Para tal será necessário
que as partidocracias, desmontem e aniquilem parte das suas estruturas
ancilosantes, colocando os seus membros mais válidos e lúcidos a dialogarem,
obtendo entre si plataformas/compromisso de base mínima para assuntos
essenciais, falando claro, apresentando, sem inibições os seus projectos para
prazos imediato, mediato e mais longínquo.
A largura do espectro político não deverá, à partida, excluir
qualquer coloração ou posição partidária. Se os objectivos forem claros e abertos
ao conhecimento público, o exercício da auto-exclusão e das suas razões,
deverão ser igualmente do conhecimento publico.
Se isso não vier a suceder, receio que os sinais agora
demonstrados pelos cidadãos através da sua intenção de voto não tenham conseguido
modificar nada. Teremos, nesse caso, de recriar massa crítica suficiente para tentar
transformar toda, ou a maior parte da abstenção, em votos nulos ou brancos. Essa será certamente uma penalização à qual a partidocracia não poderá, de
novo, pretender mostrar ignorância ou alheamento.
Para análise e reflexão,
junto abaixo um quadro comparativo com os resultados globais mais relevantes
das eleições de 2009 e 2014.
2009
|
2014
|
|
Votos expressos
|
36,77
|
33,89
|
Votos Brancos
|
4,63
|
4,41
|
Votos nulos
|
2,00
|
3,06
|
Total
Brancos+Nulos
|
6,63
|
7,47
|
Abstenção
|
63,23
|
66,10
|
Nota: Valores em %
|
J, Ferreira
Das coisas que eu sei- Dar nascimento a si próprio
ResponderEliminar" É a partir de uma certa idade que a nossa veia publicitária vai ficando mais discreta" e podemos escolher quem fará parte da crônica de nossa vida anunciada.Começamos a selecionar amigos,músicas,lugares,sentimentos. Queremos ao nosso lado aqueles que nos querem bem sem interesse.Não anunciamos aos quatro ventos os nossos feitos,as nossas conquistas,mesmo num mundo tão completamente tomado pelo narcisismo ou culto à beleza efêmera,ao que ilude os olhos e manipula massas.
Dizem que o amor é uma coisa íntima ,"mas todos nós temos a necessidade de torná-lo público.É a nossa vitória contra a solidão".Alguns falam que o amor nasce da união do homem para vencer o isolamento e escapar da loucura.Outros,que ao amarmos, "todas as coisas deixam de se tornar defeitos, porque conseguimos agora ver sua essencialidade e o seu valor". Platão subordina Eros e Logos,ou seja,subordina o amor à razão.
" Tudo pode ser contado de outra maneira." E o amor pode contar muitas histórias.
Tempo e vida.É tudo que precisamos para contar velhas/ novas histórias.
Para o José, no dia do seu aniversário.(05/10)
Ana Simões