quarta-feira, 27 de novembro de 2013

COINCIDÊNCIAS?



“Quem não se sente não é filho de boa gente”

Repescando o recente apelo de Mário Soares na Aula Magna  à unidade Democrática e a sua advertência à eminente possibilidade da violência ─  proveniente do estado de  miséria e exclusão social a que chegamos  ─ por coincidência, comparemos as palavras, também recentes do Papa Francisco:

"Enquanto não se eliminar a exclusão e a desigualdade social, na sociedade e entre vários povos, será impossível erradicar a violência. Acusamos os pobres da violência, mas, sem igualdade de oportunidades, as diferentes formas de agressão e de guerra encontrarão terreno fértil que, tarde ou cedo, provocará a explosão" escreveu o papa na exortação apostólica "Evangelii Gaudium" (A Alegria do Evangelho)

Trata-se de um  documento de 142 páginas, o primeiro do género do seu pontificado, dá orientações sobre a nova evangelização, na sequência da assembleia sinodal de Outubro de 2012, e, num sentido mais lato, apresenta o programa e as ideias pessoais do Papa.

Assim e considerando as interpretações mais ou menos incendiárias de alguns, acusando Mário Soares de incentivar a violência, poderão esses alguns considerar, de igual modo, o Papa com o mesmo sentido?

Se nos abstrairmos de considerar o apelo de Soares à demissão do governo e do presidente da república, substantivamente, o conteúdo apelativo à intervenção e acção política quanto à exclusão social, miséria e indigência, teremos de concordar que ambos tocaram na mesma tecla, por palavras diferentes.

Pela importância do assunto não o poderemos  considerar mera  diferença  semântica. Logo, há que tentar perceber o significado da Honra.

Será, desse modo, possível perceber um dos valores fundamentais do Homem na História, que hoje, infelizmente, são completamente ignorados pelos políticos, continuando a aprofundar-se as desigualdades que provocam os actuais movimentos de descontentamento, reflexos directos da insatisfação e indignação.
     Quadro de Patricia Calabrese


sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Whereof one cannot speak, thereof one must be silent.




Assim deveria ser...

Sobre aquilo de que não podemos falar temos de guardar silêncio”  


Pegando nesta assertiva citação de Ludwig Wittgenstein aplicando-a ao que se fala e escreve pelo Mundo fora, poderemos concluir que o grande dilema é conseguir entender e distinguir aquilo que se pode e deve dizer, guardando silêncio de todo o resto.
Reduzamos este pensamento à análise comportamental dos políticos portugueses ─  do governo e oposições ─ e teremos provavelmente uma entropia completa, quer a nível da desorganização quer da imprevisibilidade. 
Atentemos ao que somos compelidos a ler e presenciar diariamente ─ através de politólogos, jornalistas, ilustres membros da partidocracia ou políticos em geral    todos opinando sobre tudo, dando prova de elementares exemplos de disparates, que indecorosa e impunemente se vão proferindo e escrevendo.
Os mais requintados deixam por vezes, de forma deliberada, tudo ininteligível, confuso  enigmático ou com uma vacuidade a roçar o absurdo,  outras vezes por incompetência ou laxismo profissional, não transmitindo o substantivamente essencial, revelando ausência de conhecimento, estudo e preparação técnica adequadas, para poder ser proferido ou escrito inteligivelmente, com clareza de forma acessível à compreensão de todos os cidadãos. As recentes intervenções televisivas, uma sobre Guião da Reforma do Estado, por Paulo Portas e as alegorias filosóficas de José Sócrates sobre a Metafisica dos Costumes de Kant (Fundamentação da Metafisica dos Costumes, presumo...) são disso excelentes exemplos.
Não.
A preferência tem sido e continua a ser a opacidade, a falácia e a falta de rigor quer no discurso, quer na escrita, numa retórica e dialéctica aparentemente disparatadas, profundamente ocas, vagas e corrosivas, com o evidente propósito, consoante a modalidade: discursiva ou criptográfica, de servir finalidades ideologicas inconfessáveis.
Será justo ressalvar que existem, felizmente,  poucas mas certamente importantes e elogiosas excepções.
Somos assim confrontados com a constatação factual de como é difícil, deste modo, mobilizar o cidadão, sobretudo presentemente, quando os comportamentos políticos se têm revelado como agentes redutores e usurpadores do seu bem-estar, da sua saúde física e mental, da sua plena cidadania afinal.
Confesso: começo a sentir, por cansaço, falta de forças para lutar, embora reconheça que guardar silêncio sobre o que vejo e sinto poder vir a ser considerado como um acto pouco louvável.
Embora as minhas condições ópticas continuem a deteriorar-se, tentarei, pelo menos, ir mantendo a força física e mental para continuar a poder intervir, falando do que me rodeia e entendo; por isso, poder falar (e escrever) sem ter de guardar silêncio….

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

A demência anda à solta



Finalmente, entendi!
Segundo os dados recentemente revelados pela Aliança Europeia Contra a Depressão, 22% dos portugueses i.e., aproximadamente 1 em cada 4,  estará com problemas psiquiátricos. (leia-se sintomatologias de depressão aguda, demência ou disfunções cognitivas equivalentes) Revela ainda ou ajuda a entender a razão ─ dando-lhe forma plausível de compreensão ─ para o elevado consumo de ansiolíticos, sedativos e antidepressivos.

Sem ser especialista na matéria mas atento ao que me rodeia, sobretudo ao nível comportamental das pessoas, não fico surpreendido. De facto para além do que me é dado observar diariamente, eu próprio me interrogo, por vezes, quanto à minha sanidade mental, sobretudo quando paro para reflectir em assuntos cruciais, que me preocupam e oprimem, mal que suponho, preocupa e oprime milhões de cidadãos portugueses, tais como:

·       A permanente insegurança e incerteza, face aos expectáveis rendimentos   disponíveis, mesmo aqueles que se baseiam na retribuição contributiva de longos anos.
·       A revolta, por ora surda, mas já generalizada, pela recorrente redução das condições de cidadania, de subsistência económica, financeira e de  assistência social,  infligida cegamente aos cidadãos, em especial à maioria com menores recursos e desprotegidos, tais como desempregados de longa duração crianças e idosos.
·       A vergonha de viver num país que não obstante ter 800 e muitos anos de história, que descobriu 2/3 do Mundo e desbravou outro tanto, empurra para a indigência grande parte da sua população, obrigando sobretudo os jovens mais qualificados a emigrarem em busca de subsistência
·       A tristeza de viver num país que é governado por um grupo de aprendizes-de- feiticeiro, circunscritos a uma visão política de curto prazo, insensíveis e autistas, beneficiando sempre os mais poderosos em detrimento dos que mais precisam.
·       A ignorância em como manter o inconformismo necessário para criticar eficazmente quem governou e governa os destinos deste país e não teve nem tem o mínimo de competência para o fazer.
·        A conclusão que é quase impossível garantir às futuras gerações, filhos e netos, condições decentes de sobrevivência
·        A constatação da impotência em modificar a presente mentalidade partidocrática incrustada no tecido político, continuando esta a parasitar nas vantagens de todo o sistema, sorvendo e desviando, cada vez mais, relevante parte da riqueza produzida pelos que trabalharam e pelos que ainda trabalham; os que produziram e ainda produzem.
·       A Incerteza e incapacidade de antecipar por forma prospectiva as regras fiscais permanentemente em mutação, aplicadas sempre de acordo com as necessidades orçamentais supervenientes, mais do que aquelas estruturalmente planeadas.
·       A completa e redundante prática do discurso politico; falacioso, capcioso, tentando assim enredar os cidadãos, mentindo por vezes descaradamente, dizendo hoje, desdizendo-se amanhã ou logo de seguida se necessário,  com ligeireza, insolente impudência e total impunidade.
·       A demonstração da inexistência de planos de acção estabelecidos com o cuidado e estudo necessários tendo em vista resolver os problemas estruturais do país e dos cidadãos, revelando claramente  uma ausência de politicas criteriosas, estudadas e  planificadas, aplicando remendos sobre remendos em acções circunstanciais ao sabor das diferentes problemáticas, muitas delas resultantes da má aplicação-própria de remédios em bases teórico-experimentais, menosprezando sobranceiramente os ensinamentos do empirismo.
·       A incúria e desdém pela sanidade mental e da subsistência existencial dos cidadãos, provocando-lhes sistematicamente instabilidade através de um clima de terrorismo psicológico, consumado em medidas de coacção financeira ou de pré-aviso-alarmista de catástrofes ribombantes, para as justificar em termos futuros, sempre atentatórias aos seus direitos básicos. 
.      A incapacidade dos partidos políticos entenderem que é fundamental encontrar pelo menos consensos minimos nas áreas mais sensíveis e importantes para o país e para os cidadãos, deixando de se acantonarem a um ostracismo pungente, negativista que nos arrasta para o abismo.

Por isto tudo e muito mais que não me ocorre agora, entendi finalmente, as razões da elevada percentagem de portugueses em risco de demência total. Não admira que assim seja.

O mais grave será sem dúvida constatar que este estado demencial do país começa exactamente nos membros do presente governo ao ponto de serem eles próprios o mal e não o remédio para a cura das doenças com que vão infectando os cidadãos  ─ destruindo, desse modo, os tecidos ainda saudáveis na nossa parte pensante ─ em gigantesco vórtice de não-ideias, propositadamente ambíguas  ou incompletas, sempre dúbias, por forma a permitir, amanhã, serem modificadas consoante as necessidades.

Assim continuarão a alimentar ad hoc não só a sua própria demência, mas a agravar, inexoravelmente, a então já inelutável sanidade mental dos cidadãos.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Eleições Autárquicas 2013




Eleições autárquicas: escaras dissimuladas…e o falacioso  autismo partidocrático

Foram no passado domingo e os resultados finais já se encontram disponíveis. As freguesias que boicotaram as eleições (2) não irão certamente alterar substancialmente os resultados já escrutinados. Sem dúvida que os seus resultados indiciam um início de mudança do paradigma político actual.
Por muitos paliativos que os partidos coloquem nas feridas, elas, as escaras, estão lá, sangram de novo, fendas abertas por debaixo da pele aparentemente escarificada; sem exanimação ou desfalecimento visíveis, induzindo ausência de dor, pois nenhum dos partidos se lamenta. Esse continua a ser o autismo da partidocracia, continuando a necessitar de urgente aplicação de probidade adequada.
Assim, cada um alegremente à sua maneira, trata de classificar as perdas como irrelevantes e os ganhos em honrosas conquistas sem sequer considerar, com a mais elementar minudência, o significado dos resultados obtidos, para além da análise facciosa dos números, não lhes interessando, por ora, analisar e dissecar as efectivas razões que estiveram na sua origem.
É evidente que há vitórias que são incontestáveis, resultado de posturas recorrentes, misto de acção postular e demonstração prática de ideologias e lealdade ás mesmas. Salvo raras excepções, todas elas estão muito mais ligadas às pessoas que as representaram do que ao postulado partidocrático.
Fui dos que aqui e não só neste local, por este meio e outros, advoguei uma posição crítica extrema face a todas as eleições, isto tendo em atenção a perniciosa acção dos partidos políticos em geral, em especial dos alegadamente chamados do “arco do poder”. Essa posição traduziu-se no “abstencionismo militante” (abstenção pura, votar branco ou nulo)
Foi e continua a ser uma posição que pretende criar massa crítica suficiente para alertar, eficazmente, a partidocracia sufocante implantada, por forma a possibilitar um entendimento abrangente entre todos os partidos políticos, tendo em vista a defesa dos reais interesses dos cidadãos, ao invés da escandalosa defesa dos interesses das suas hostes partidárias.
Não obstante a evidente matriz como que marca-de-água-politica ainda inculcada em grande parte dos cidadãos, sem dúvida que essa filosofia acabou por ser entendida pelos que directamente contactei mas, mais importante, por ser sentida e partilhada por muitos outros cidadãos, fora deste círculo, acabando por ser aplicada por forma muito mais ampla e diversificada. A votação em candidatos independentes foi outra forma muito expressiva de repúdio ao sistema partidocrático vigente. (relembro que dada a especificidade destas eleições, eu próprio sugeri, este tipo de voto, como excepção, posto que o conhecimento pessoal dos candidatos influiria e possibilitaria um sentido de voto com maior clareza, pois tratava-se de votar em pessoas, não nos símbolos formatados que a diferente partidocracia pretendia impingir)
Por outro lado, o sentimento de desagrado subjacente à insatisfação com o governo actual, terá sido outro factor que contribuiu para toldar a real intuição e concomitante aplicação do voto, dando-lhe um sentido mais adequado. Falo obviamente da transferência de votos para outros partidos, com intenção claramente punitiva.
Conjugando todas estas posições, atentemos nos seguintes dados:
1.      Total de Inscritos:                                               9.497.404 (a)
2.      Votos expressos:                                                  4.995.174  ─ 52,6%
3.      Abstencionistas:                                                  4.502.230  ─ 47,4%
4.      Votos Brancos:                                                        147.124   2,95%
5.      Votos em Nulos:                                                      193.334 –   3,87% 
6.      Votos em independentes:                                         344.566 –   6,90%
7.      Total que não votou em partidos políticos:      5.187.254 – 54,6%
8.      Total que votou em partidos políticos:             4.310.150 – 45,4%
(a) Os dados do recenseamento eleitoral são desde longa data de baixa fiabilidade, Presentemente, não estará considerado o crescimento da emigração, bem como a actualização dos óbitos A discrepância entre os números de eleitores inscritos nos cadernos eleitorais (9.497.404) e de cidadãos residentes em Portugal com mais de 18 anos, (8.607.853, i.e. menos 889.551 cidadãos) é evidente e considerando-a, modificará quer a taxa de abstenção, quer a de votantes, significando  uma diferença aproximado de 9,00% ou seja, se considerarmos a abstenção em relação ao número de cidadãos residentes com mais de 18 anos, teremos uma abstenção na ordem dos 41.9% o que será mais realista…Teríamos assim, para o total de cidadãos que não votaram em partidos políticos (4.297.703) uma taxa de 49,9% ao que corresponderia uma representatividade partidária de 50,0%
Poderemos portanto, face aos números oficiais, concluir que estas eleições resultaram numa maioria de cidadãos (54,6%) fora do sistema partidocrático, não sendo portanto representados por nenhum partido político. Esta será certamente uma análise que os partidos políticos não irão fazer, continuando a não colher os ensinamentos bem explícitos que estes números representam. Se considerarmos os resultados face ao número de cidadãos com idade superior a 18 anos, teremos mesmo assim, um país claramente dividido em duas metades.
Não sou apologista da abolição pura dos partidos políticos. Continuo convicto que a sua existência é essencial numa Democracia. Todavia a sua existência nos moldes e formas de actuar vigentes tem de mudar. Não servem os cidadãos e, desse modo, a sua existência tem de ser entendida com o objectivo recorrentemente claro de defender a sua clientela partidária, os seus apaniguados.
Há que mudar este regime, pois doutra forma, continuaremos cada dia que passa, a cavar mais fundo o fosso entre ricos e pobres, com o alargamento incontrolado da indigência da maioria dos cidadãos. Será por isso necessário que continuemos a actuar por forma a que os partidos políticos entendam que representar os cidadãos não é servirem-se do seu voto, mas antes que a sua escolha, ao votarem, seja respeitada em defesa do seu bem-estar e não proporcionar somente o bem-estar da classe politica em que votaram. Teremos portanto que utilizar sabiamente a arma veicular que possuímos com maior impacto: as eleições e a forma como aproveitamos essa oportunidade em expressar o nosso repúdio e descontentamento às políticas partidocráticas vigentes que nos sufocam.