Tal como muito boa gente, começo a estar cansado de ouvir.
Não de ouvir tudo, mas tão só o que me tenta enganar, o que me obriga a ouvir de novo, sem esperança.
Cansado de ouvir sobretudo gente política, ou afins, comentadores, fazedores de opinião, sindicalistas, grupos de classes profissionais, associações, profissionais e empresariais, etc. que falam, falam e tornam a falar, despejando toneladas de palavras, toneladas de coisas, invariavelmente, sempre com o mesmo fito: convencer os seus opositores, a sua classe, organização ou genericamente, quem os ouve.
Como é evidente, trata-se de uma técnica, (ou arte?) de convencer ou tentar fazê-lo, agora com acrescido poder de disseminação dos media, sobretudo da televisão.
Pegando num tema incontestavelmente actual, referirei todo o processo eleitoral recente, conducente aos resultados conhecidos, culminando na formação do governo recentemente empossado.
Desde a metodologia do assumido diálogo do governo com os restantes partidos com assento parlamentar, até aos seus resultados práticos, direi que duvido quer da intenção do promotor, quer da intenção dos que a ela aderiram.
Isto porque de facto, após os diferentes diálogos, foi evidente a predominância da retórica, ao que essencialmente seria de esperar. Quer do governo, quer dos partidos.
Teremos de admitir que todo este esquema de democracia actual, implica uma indiscutível e evidente asseguração de emprego, (mais ou menos bem remunerado, dependendo do cargo) para uma enormíssima quantidade de gente. Logo, a defesa dos postos de trabalho é um imperativo, quer social, quer institucional fora de qualquer discussão, pois ao faze-lo estaríamos a colocar a própria democracia em questão. (!?)
Não escondo assim a minha desilusão, por todo este ambiente de retórica (sofista) em que se vão envolvendo todos os participantes, não se preocupando efectivamente em distinguir o que é justo ou certo fazer, mas antes tentar convencer os antagonistas e restantes espectadores anónimos (todos nós, votantes e não votantes) de que a sua razão é a melhor, evitando assim, partilhar, dividir, abdicar, condescender, até encontrar, de facto o que é necessário e útil a uma maioria, alheia aos interesses de uma minoria dominante, (política) que, sem pudor, vai defendendo os seus próprios interesses em detrimento daquela maioria que sofre dos seus, minoritários representativos desentendimentos.
Não sei o que irá resultar a discussão e eventual aprovação ou rejeição do Orçamento de Estado, mas há uma certeza que se me perfila: se a persistência dos partidos, incluindo o governo, mantiverem o princípio da figura da retórica, como artifício de linguagem, modificando o significado do exequível, como imperativo, longe estaremos de encontrar solução para os problemas que nos afligem e são muitos, como sabemos.
Se tal suceder - e optimisticamente, espero que não suceda - teremos em uníssono de apontar o dedo aos partidos, todos, sem excepção, que serão, passarão a ser, responsáveis pelo descrédito acrescido da legitimidade na sua efectiva representatividade, pior, na continuada incapacidade de resolver os reais problemas deste país à beira mar plantado.
Há que mudar o paradigma e começar a FAZER, além de falar.
Como dizia o meu avô: Deixem-se de conversas! É tempo de arregaçar as mangas e meter as mãos na caca!
JOSÉ FERREIRA
ResponderEliminarMeu Caro,
Platónico que baste, do que escreves sublinho a passagem que se segue:
" ( ... ) evitando assim, partilhar, dividir, abdicar, condescender, até encontrar, de facto o que é necessário e útil a uma maioria ( ... ) "
Mas o que é isto senão capacidade negocial, em si mesma faceta de outra qualidade maior, aquela de saber delegar!?
E vão dois eus!!!
Abraços
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 29 de Outubro de 2009
Ora muito bem!
ResponderEliminarEu adoraria ver os deputados todos a lavar penicos!
E se fosse para mudar este paradigma e embora discutindo se fizesse, até eu os lavaria!
Um abraço
Manuela Baptista