terça-feira, 17 de novembro de 2009

Será que continuamos a ser Imbecis?

Passo sem mais comentários. Mais Palavras para quê?


"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio,
fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora,
aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias,
sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice,
pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas;
um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem,
nem onde está, nem para onde vai;
um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom,
e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que
um lampejo misterioso da alma nacional,
reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.


Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula,
não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha,
sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima,
descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas,
capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação,
da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam,
entre a indiferença geral, escândalos monstruosos,
absolutamente inverosímeis no Limoeiro.


Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo;
este criado de quarto do moderador; e este, finalmente,
tornado absoluto pela abdicação unânime do País.


A justiça ao arbítrio da Política,
torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.


Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções,
incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico
e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos,
iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero,
e não se malgando e fundindo, apesar disso,
pela razão que alguém deu no parlamento,
de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar." 

Guerra Junqueiro, 1896.

8 comentários:

  1. Só para assinalar que não obstante a por certo pertinência temporal da prosa Junqueiriana, sem dúvida, que em relação aos tempos que correm, quase a poderemos classificar de premonitória!
    Será uma maldição nacional, ou continuamos a ser imbecis?

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  2. JOSÉ FERREIRA


    Meu Caro,

    Eu não gosto de cair em generalizações e pese embora a actualidade em que nos possamos rever no retrato de Guerra Junqueiro que aqui editas.

    Mas, e se a dificuldade que, por exemplo, aparentemente demonstramos no reconhecimento do mérito, pelo contrário, não fosse nem maldição nem imbecilidade, mas antes exigência redobrada!?

    Um exigência que faz os seus sujeitarem-se a uma tal via sacra pondo à prova a sua consistência e capacidade em remar contra a corrente até que, do exterior, a consagração, por fim, surja!?

    Como te digo, não gosto de cair em generalizações e, portanto, acho que nem pesa maldição sobre nós, nem somos imbecis!

    Abraços


    Jaime Latino Ferreira
    Estoril, 17 de Novembro de 2009

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  3. JOSÉ FERREIRA


    Meu Caro,

    Afinal, mudaste a fotografia ...!

    Tive quase para te dizer mas, depois, passou-me!

    Um Abraço,


    Jaime Latino Ferreira
    Estoril, 18 de Novembro de 2009

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  4. Obrigado Jaime.
    Houve alguém que me avisou por mail.
    Cada vez mais pitosga meu caro.
    Thanks anyway.
    1 Abraço

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  5. Olá amigo Zé!
    Com esta minha visita matinal, perfazes 600 visitas! Parabéns pela continha redonda! Já escreveste o texto para o Miguel Carvalho? Se ainda não, votos de boa inspiração!
    Beijos

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  6. Olá Zé:
    passei para retribuir o carinho e dizer que também eu tenho muitas saudades tuas...mas a minha vida continua enrolada: só a escola continua bem.
    BEIJOS

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  7. acabou-se o seu descanso!

    Já nos tem outra vez à perna!

    Obrigada pelos seus telefonemas e pode crer que imbecis mesmo imbecis, há aos montes na Zon...

    um abraço

    Manuela Baptista

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  8. JOSÉ FERREIRA


    Caríssimo,

    Pela solidariedade manifestada, eu também, te agradeço!

    Imbecilidade contornada, cá nos tens, de novo, ao ataque!

    Abraços


    Jaime Latino Ferreira
    Estoril, 26 de Novembro de 2009

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