segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Português ou Ibérico?



Vão fazer amanhã, dia 1 de Dezembro de 2009, 369 anos que nos livramos da monarquia Filipina.

As perguntas que me ocorrem, olhando, restrospectivamente a História, são:

• Será que valeu a pena?
• Estaríamos hoje, melhor se fossemos um só país, a Ibéria?
• Para além do dialecto, português, entre outros, qual seria a língua oficial?
• Já teríamos TVG até Lisboa e Porto?
• Onde se situaria a Assembleia da República?
• Teria D. Juan Carlos mais direitos dinásticos que D. Duarte?
• Teríamos, em futebol, um Real Lisboa e um Real Madrid?
• Teríamos um salário mínimo mais elevado, igual ao deles, actualmente?
• Seríamos mais fortes como pais?
• Teremos, com a revolução de 1640 desperdiçado uma oportunidade de sermos, hoje,maiores e mais importantes?


Sinceramente, por muito orgulho que tenha em ser português, muito difícil se torna responder às questões acima formuladas.


Eu por mim vou instigando os meus filhos a aprender espanhol, mais do que francês.
Será, pragmaticamente, uma decisão acertada, julgo.

O Advento, Tradição ou Fé Cristã?




Que me desculpem os cristãos em geral e, em particular os católicos, mas dando uma interpretação literal ao vocábulo advento, confrontando-o com a simbologia cristã, poderei, julgo, também eu dissertar acerca de ambas as concepções, não tentando sobrepor, uma à outra, mas, pelo contrário, demonstrar a minha crença vacilante quanto à exaltação cristã do Advento, isto tendo em consideração o estado actual em que nos encontramos, globalmente.
Considerando toda a inculcada e sistematizada prática da liturgia e mística cristã, concluo que se trata de uma expectativa, reiterada, de rituais exultantes,  que culminam com a celebração da primeira vinda de Jesus.
Se olharmos com seriedade para esta evidência, concluiremos que a celebração do Natal, é hoje, em termos religiosos, um acto inócuo, sem qualquer significado litúrgico para uma grande maioria dos cristãos, a não ser a tradição de o celebrar.
Modestamente, considero assim a Época do Tempo do Advento como um consistente exemplo de praxismo espiritual, muito mais do que um acto de Fé Cristã.
Acreditarei e recomendarei muito mais, a todos os habitantes deste Planeta, mais do que utilizarem praxis litúrgicas, se concentrem na acepção do vocábulo em si, aplicando-o e praticando-o, independentemente da língua ou crença religiosa…
...por forma que possa resultar, consequentemente, em favor da erradicação, neste Planeta, da guerra, da fome, da iliteracia, da pobreza, da compreensão dos Direitos Fundamentais do Ser Humano, Animais e Ambiente, do Respeito Universal pela diferença de Ideias…
…perfilando-me, de peito aberto,
com fervoroso Apelo de Esperança a Quem me venha a ler e de igual modo o pratique, Todos os Dias, fora das práticas compulsivas.
Por consideração, mais do que convicção, aos alegados primeiros Habitantes do Planeta, acenderei a primeira vela, na Esperança que Todos consigamos, com fé religiosa, ou sem ela, em equidistância, mudar para Melhor este Planeta!

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

O Artista e o Crítico

Pela sua extraordinária cultura Universalista, pensador que muito admiro, passo um pensamento reflexivo do Mestre Agostinho da Silva, com o qual me identifico.



É elementar que o artista não cria a realidade; vai buscar os materiais que se lhe oferecem, que lhe são comuns com os outros homens; na escolha deles residem o seu primeiro trabalho e a sua primeira prova; em seguida — e aqui temos a sua tarefa mais alta — tece um certo número de relações entre esses elementos; quanto mais amplas elas forem, de mais universal carácter e valor, tanto mais elevado será o poema; mas, até nos casos mais simples, surge com a obra um mundo novo, um mundo que não existia com tal arquitectura, com tal ordem.                           
Se cabe ao poeta ou ao escultor criar um universo, cabe ao crítico criar um artista; dele também não existem, antes da empresa crítica, senão os elementos dispersos, os vários traços dos seus versos ou das suas estátuas; Fídias ou Milton só passam verdadeiramente a ser quando encontram Collignon e Macaulay; os Erasmos de dois autores diferentes são diferentes, como são diferentes as árvores de Cláudio Lorena e as árvores de Beruete; se quiséssemos entrar na carreira de colocar as artes em degraus poríamos o crítico no mais alto de todos: porque é a ele que compete a missão de criar o criador; tem, na arte, o trabalho que tomam para si o teólogo e o filósofo no mundo mais vasto do pensamento. Não temos nada a objectar a que o artista não ouça o crítico, embora, se esmiuçássemos, acabássemos por ter de reconhecer tal caminho como impossível; suponhamos que é sempre o contrário que se tem que dar: é o crítico quem deve seguir, com amorosa atenção, a fantasia do artista. Nada, portanto, de crítica normativa; só explicativa e ressoadora (como se tudo isto não incluísse sempre uma norma); faça o artista o que quiser, ninguém lhe dê conselhos, e se lhos derem ria o artista; a sua órbita depende da sua vontade; rume a que céus quiser e seja imprevisível.
Mas, como o crítico é também um artista, tem ele mesmo o direito de exigir que lhe não ponham barreiras, que o deixem ser à vontade juiz ou ampliador e que o expliquem depois, se quiserem; é ilógico impor limites ao crítico, quando se quebram esses limites em nome da liberdade de criação; ou um e outro os devem ter, e nesse caso o crítico pode ser pedagógico (que haverá não pedagógico?) e o artista tem de o escutar e seguir, ou se derrubam para todos e então nada de regras e manuais destinados aos críticos; a atitude a escolher é uma só: tudo o mais confusão e prosa inútil.

Agostinho da Silva, in 'Diário de Alcestes' 

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Será que continuamos a ser Imbecis?

Passo sem mais comentários. Mais Palavras para quê?


"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio,
fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora,
aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias,
sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice,
pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas;
um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem,
nem onde está, nem para onde vai;
um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom,
e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que
um lampejo misterioso da alma nacional,
reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.


Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula,
não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha,
sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima,
descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas,
capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação,
da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam,
entre a indiferença geral, escândalos monstruosos,
absolutamente inverosímeis no Limoeiro.


Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo;
este criado de quarto do moderador; e este, finalmente,
tornado absoluto pela abdicação unânime do País.


A justiça ao arbítrio da Política,
torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.


Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções,
incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico
e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos,
iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero,
e não se malgando e fundindo, apesar disso,
pela razão que alguém deu no parlamento,
de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar." 

Guerra Junqueiro, 1896.

sábado, 14 de novembro de 2009

Gato por lebre, ou qualidade?


Foi com alguma carga de nostalgia, por um lado e surpresa, por outro, que fui confrontado com a recente gastronómica reunião dos cineastas,  Coppola e  Cronenberg e o escritor DeLillo no restaurante Visconde da Luz em Cascais.

Nostalgia, pois o Visconde da Luz, foi durante bastante tempo, o meu restaurante de eleição, quer em festejos familiares, quer em eventos profissionais.

Aí me acolhiam sempre com  amigável simpatia  e profissionalismo à prova de bala um dos proprietários, o Casaleiro (já arredado faz tempo) o Xico Freire ou o Manel Cerqueira.

Surpresa, porque não obstante a enorme quantidade de oferta existente na área, alguém tenha tido a ideia de escolher o Visconde da Luz ( suponho que terá sido do Paulo Branco) para satisfazer os assumidos requintados gostos gastronómicos de tão importantes figuras da cultura Universal.

Desde que me mudei para esta zona Eiriceirence, que deixei de frequentar tão assiduamente o Visconde da Luz.
Faz já  mais de 6 anos que ali não poiso. De facto, também aqui , nesta zona, se come muito bem, incluindo o peixe fresco e o marisco.

Finalizo, expressando a razão principal desta asserção.

Quando a qualidade persiste e sobrevive tanto tempo, valerá a pena perguntar:

Porque continua a subsistir a intenção, a prática, de vender gato por lebre?

Finalmente e para que não sobreviva a ideia errada que só se come bem em restaurantes caros, (neste caso, através da quase apologia ao Visconde da Luz) devo confessar a minha, ainda hoje inculcada apetência para experimentar ou petiscar nas chamadas tascas, ou restaurantes familiares.

Recordo por exemplo, as paradigmáticas tascas nortenhas, que, pessoalmente, considero  como dos grandes expoentes da arte de bem comer, " A Tasca da Vila Meã  e o "Aleixo", ambas no Porto.

domingo, 8 de novembro de 2009

Ainda curiosidades linguísticas

Escrevi aqui faz algum tempo, um artigo sobre "curiosidades linguísticas", na circunstância, ocorridas em Milão.

Numa delas, descrevi a surpresa da utilização, em Itália - para mim pejorativa - do vocábulo "portuguese" significando ou relacionando o mesmo ao acto de entrar de salto, sem pagar, fosse onde fosse.
Como então escrevi, não consegui em Milão, encontrar justificação para aplicação de tal epíteto.

Hoje mesmo, por generosa comparticipação de uma Amiga e vizinha, a Isabel, consegui, finalmente, compreender a relação entre a palavra e os actos que terão justificado a aplicação da mesma, facto que ainda hoje perdura.

Assim passo, por palavras suas, o que me foi transmitido:
cito

"Zé,
De vez em quando espreito os blogs dos amigos, e desta, achei imensa graça ao seu comentário aos "portuguese".
Uns amigos meus, de Roma, contaram-me que esse termo vem de 1516, aquando duma Embaixada que D.Manuel I enviou a Roma e da qual constava um Elefante para ofertar ao Papa Leão X.
Tal como hoje... os portugueses, abusando da recepção que lhes foi feita, entraram,comeram e beberam em todos os lados agradecendo (supostamente...) mas sem pagar....
Portanto, desde aí, tudo que entrasse à borla, passou a ser conhecido por "portuguese"
Há um obelisco com um elefante, frente à Igreja Sª Mª Sopra Minerva, em Roma.
Quis confirmar a história, mas na Wikipédia , apenas aprendi o nome do Elefante : Hanno!"
Fim de citação

Sempre a aprender, até morrer.
Obrigado Bé!

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Ainda 365


Hoje vou ser parco em palavras.

Acedo só para expressar uma analogia simples que me aflorou ao acordar, sobre duas ocorrências diversas, coincidentes temporalmente.

Trata-se da comemoração da passagem de 365 dias sobre essas ocorrências.
Uma refere-se a B.H.O e outra a J.L.F.

O primeiro é norte-americano, presidente dum país enorme, esgrimindo, diariamente, com a política.

O segundo é português, prolífero literato em verso e em prosa, esgrimista exímio da palavra escrita.

Ambos perfizeram recentemente 365 dias de actividades distintas, que segui e continuarei a seguir com interesse.

A ambos presto a minha modesta homenagem.

domingo, 1 de novembro de 2009

Pontualidade ou a falta dela








Sou fervoroso incondicional defensor e inveterado praticante da pontualidade.

É um tema recorrentemente penoso, para mim e sobretudo para os que mais de perto convivem comigo, pois sou acerbo e inexorável critico à falta de pontualidade.

Passou-se este Sábado com os meus filhotes, mais uma vez. Cheguei, como é meu hábito sensivelmente 10 minutos antes da hora que havíamos combinado de comum acordo, no dia anterior, ir busca-los a casa da mãe, às 10:00 horas. Não obstante os meus esforços através do telefone, (antes, durante e depois da hora marcada) acabei por ter de esperar quase 35 minutos para além da hora combinada.

Este procedimento, já classificado mais que uma vez, como obsessão, não passa de uma disciplina que assenta num principio simples, que o nosso querido professor Moniz Pereira, classifica como uma ofensa pessoal.

Cedo aprendi e ao longo dos anos me tem servido de referencial, uma experiência ocorrida no meu primeiro emprego. Aconteceu em 1963, era então trabalhador-estudante. Nesse dia,e por impossibilidade do meu chefe, o Augustin Fernandez, fui encarregado de acompanhar um americano (cujo nome já não me recordo) da Pratt & Whitney, fabricante, entre outras coisas, dos reactores do Boeing 707.

A missão era simples, pois tratava-se de ir busca-lo ao hotel Tivoli, na Avenida da Liberdade e leva-lo à TAP, no aeroporto de Lisboa. Isto para dar cumprimento a uma reunião marcada, atempadamente, com o Comandante Roger de Avelar, e, após a mesma, voltar com ele ao escritório.

A entrevista estava agendada para a 09:00 horas da manhã com uma duração máxima de 1 hora, igualmente definida , aquando da marcação.

Por muito que se estranhe, já naquela altura, atravessar Lisboa de automóvel era uma aventura. Por falta de experiência e à boa maneira portuguesa calculei que 30 minutos seriam mais que suficientes para, atempadamente, chegar à entrevista. Assim, às 08:30 lá cheguei ao hotel tendo arrancado de imediato com o homem da P&W.

Para além do tráfego infernal até ao aeroporto e demora na recepção (por acumulação de visitantes) à entrada do espaço da TAP, facultando dados pessoais à segurança, chegámos ao gabinete do comandante Avelar às 09:20H.

Após anúncio de chegada, a sua secretária introduziu-nos de imediato na sala de reuniões,contigua ao gabinete de trabalho. Após os cumprimentos e as minhas esfarrapadas desculpas pelo atraso, o comandante Avelar, em tom solene, disse simplesmente: caros senhores, esta entrevista estava programada para durar 60 minutos. Considerando o vosso atraso, a mesma fica restrita a 40 minutos.

E durou de facto só 40 minutos, sem direito a um minuto de extensão que fosse.

Foi uma lição que nunca mais esqueci, mantendo, ainda hoje, uma metodologia simples: prefiro chegar meia hora antes do que cinco minutos atrasado. Por esse facto, considero a falta de pontualidade um défice de consideração, tal como o professor Moniz Pereira, uma ofensa pessoal.

A este propósito, recordo igualmente um caso, citado pelo nosso saudoso Raul Solnado, como ocorrido com ele próprio.

Ele teria um espectáculo marcado no Porto. Por uma questão de comodidade e rapidez, terá optado ir de avião, nesse mesmo dia, em voo com suficiente tempo que lhe daria até para comer qualquer coisa antes do programado espectáculo.

Todavia, devido a um dos costumeiros e aborrecidos nevoeiros que usualmente, naquela época do ano ocorriam, o voo teve um atraso significativo, implicando que o Raul não chegou à hora marcada. Efectuou, da melhor forma que lhe foi possível, uma apresentação de desculpas ao público que pacientemente o havia esperado, enfatizando a responsabilidade da instabilidade meteorológica, justificação que terá sido maioritariamente aceite pela assistência, à excepção de um dos presentes sentado, algures na plateia, que disparou: Prá próxima vê se vens no dia anterior!

Por experiência, sobretudo profissional, devo confessar, que me é frustrante e doloroso constatar que ainda hoje a falta de pontualidade é (re)corrente, usual, quase sistémica quer em Portugal, quer no resto da Europa de expressão latina, com especial incidência em Espanha, França e Itália. Ao contrário, pela prática colhida, onde encontrei maior rigor com a pontualidade foi na Alemanha, à frente, com destaque da Inglaterra, secundados pela Bélgica e países nórdicos.