domingo, 24 de janeiro de 2010

Coincidências fadistas, fado da vida



A vida é assim, como o fado.

Incondicional amante de toda a música, salvo a sacra e de câmara (nem toda) não posso deixar de admitir ter um carinho muito particular pelo fado.

Primeiro, por ser alfacinha de gema, tendo-o vivido bem de perto, depois porque através dele, grandes poetas têm sido cantados, tornando-os, assim, mais conhecidos.

Para evitar provocar susceptibilidades nortenhas, devo confessar que também no Porto se canta excelente fado, embora aí, a minha experiência, tivesse sido bastante fugaz.

Tive, em parte da minha juventude, o privilégio de viver a noite deambulando pelas catedrais do fado vadio, que se cantava sobretudo no Bairro Alto, Alfama e Mouraria.

Foi todavia no Bairro Alto que mais poisei, sempre com a trupe da Avenida de Roma, arrancando de forma variável e aleatória, dos cafés VáVá, Luanda (por onde poisava entre outros o Paulo de Carvalho) do Londres ou da Mexicana.

Dependendo da disposição e disponibilidades financeiras - sempre escassas - iniciávamos, invariavelmente, a ronda na Praça da Alegria, (Márcia Condessa/Hot Club) subindo por ali acima até ao Bairro Alto.

Ali, ao abrigo de salutar convivência e calor Humano, lá íamos poisando nas diversas tascas, onde, além de se petiscar por módicos preços, se podia ouvir fado até às tantas da noite. Quer os músicos, quer os fadistas eram amadores, sucedendo, na maioria dos casos, serem complementados, por clientes que jeito para a arte possuíam e a executavam, quer a solo quer em acesas e etilizadas desgarradas.

Por vezes lá apareciam, sedentos das mesmas partilhas, a da noite e a do fado, figuras conhecidas de outras áreas,como, por exemplo, o Mário Zambujal e o José Cardoso Pires, entre outros, alguns até fadistas consagrados, nos seus dias de folga.

Não terei certamente memória para mencionar todos os fadistas que naquela época cantavam e que faziam as delícias de quem do fado gostava, mas não posso deixar de mencionar alguns dos que mais apreciei, a começar pelo Alfredo Marceneiro, o Carlos Ramos, a Lucília do Carmo, (mais tarde e presentemente o filho, o Carlos) o Fernando Farinha, a Teresa Tarouca, o Manuel de Almeida, sem, claro, esquecer a Rainha Amália.

Que me perdoem os inúmeros outros que não menciono

Vem isto a propósito, devido a uma coincidência sucedida esta semana.

Não obstante não ter deixado de gostar de fado, constato que me desactualizei bastante, não tendo acompanhado a evolução, a transformação que se foi introduzindo no fado, sobretudo a nível de reposição de valores.

Não a considerando uma fadista de gema, confesso que da nova recente geração de fadistas só me recordo da Marisa e do Camané, por serem os mais badalados em termos de media.

Voltando à coincidência.

Esta semana recebi de um amigo um pps, via email, com o fado “Buzios” da Ana Moura.
Ontem, Sábado, esteve circunstancialmente, cá em casa, a Joana Amendoeira.

Sinceramente confesso que não conhecia nem uma, nem outra.


Depois de ouvir vários fados de ambas, confesso-me totalmente rendido e feliz por esta coincidência, pois sem dúvida que considero, para mim, que descobri duas interpretes de grande qualidade.

Para quem não conhece e, como eu, goste de fado, recomendo veementemente uma incursão pelo YouTube, onde facilmente encontrarão profusa matéria audío-visual, sobre elas.

Para já limitar-me-ei a incluir, para partilha, um vídeo clip de cada uma delas.

Apreciem





4 comentários:

  1. FADO


    Ai vens-me com o fado
    desencanto bravo
    desabafo enfado
    a dúvida que trago
    ai triste que esgrimes
    com amargo travo
    é a canção que cantas
    negra e rubro cravo

    Ai vens-me com o fado
    determinista lado
    alma triste que enquina
    minha vontade e sina
    de um destino fadista
    que invade o prado
    a cidade e o mundo
    o mar bravio em que nado


    Jaime Latino Ferreira
    Estoril, 24 de Janeiro de 2010

    ResponderEliminar
  2. Estamos fadistas!

    pois eu também gosto de fado,

    mas não gosto do culto do fado e dos fadistas, com toda a marialvisse inerente...

    que tende a desaparecer graças a estes novos fadistas, com outro visual, mais produzido, onde o xaile já se foi!

    Gostei dos vídeos.

    um abraço

    Manuela

    ResponderEliminar
  3. José, olá..!

    Gosto de fado. Mas não para ouvir todos os dias. Por vezes ouvir fado entristece-me, só por isso.

    Gostei dos fados que hoje ouvi. E eu já gostava da Ana Moura, já conhecia.

    Muitos beijinhos!
    dulce

    ResponderEliminar
  4. Pois eu gosto de fado!Não gosto de ouvir todos os dias... Gosto da Marisa,com sua voz belíssima.

    :))

    Obrigada José,e não chegou atrasado,amigos não se atrasam... rsrsrs

    Juízo? rsrsrs Onde é que se compra isso?


    Beijoquinhas carinhosas, sem juízo.


    Eita!

    ResponderEliminar